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Notícia de Divirta-se

O CEGO E O TRAPEZISTA

Em novo livro, Adriano Espínola joga luz sobre obras indispensáveis

Publicado em: 31/08/2022 23:57

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À poesia pernambucana, o professor e crítico literário Adriano Espínola dedica parte significativa da obra O cego e o trapezista: Ensaios de literatura brasileira, a ser lançada amanhã pela Cepe Editora. Cearense de Fortaleza, com os pés atualmente fincados no Rio de Janeiro e autor de mais de uma dezena de livros, ele justifica a inclusão dos escritores do estado sem rodeios. “Pernambuco, em suma e sem nenhum favor, representa um dos grandes polos artísticos e literários do país.”

Manuel Bandeira é duplamente analisado por Espínola. O autor tem sua poesia tocada em dois dos 33 ensaios e artigos críticos da obra, cujas 389 páginas são divididas em cinco capítulos. Entre as razões para a abordagem minuciosa dos versos de Bandeira está o entendimento de que ele “foi o poeta que mais contribuiu para consolidar e mesmo popularizar a poesia modernista no país”. E fez isso, conforme Espínola, sobretudo a partir de Libertinagem, publicada em 1930.

Uma das análises da poesia de Bandeira está no capítulo O campo, as coisas, o corpo, a cidade, o quarto do livro, também dedicado aos mineiros Carlos Drummond de Andrade e Guimarães Rosa, ao maranhense Ferreira Gullar e ao também pernambucano João Cabral de Melo Neto. A análise percorre a visão do poeta em As cidades de Manuel. Cidades estas, Recife e Rio de Janeiro.  

É a partir do Recife, pontua Espínola, que Bandeira, com os olhos e as sensações da infância alumbrada, lança o esquadro para o futuro. O fim é “criar o desenho de uma outra cidade, na qual possa igualmente ser feliz. Plantada no horizonte utópico da imaginação e do desejo, esta ‘outra civilização’ recebe o nome de ‘Pasárgada’”.

A partir da poesia de Bandeira e da sociologia de Gilberto Freyre, O cego e o trapezista constrói um diálogo textual. No cerne da “conversa”, a arquitetura, a dança, o negro, o índio e, como nas obras de ambos, a noção do inacabado.  

Em Bandeira, a noção do inacabado está no por vir, no futuro, perceptíveis nos versos de Vou-me embora pra Pasárgada, enquanto em Freyre, “a impressão de incompleto, de inacabado” vem de Casa-grande e senzala. Segundo Espínola, o próprio sociólogo justifica “um tanto por sua natureza (da obra) e muito por deficiência do autor”.

O diálogo textual entre Bandeira e Freyre integra o capítulo A invenção (literária) do Brasil Colonial, o primeiro dos cinco capítulos, no qual a obra de Gregório de Matos também é analisada. No segundo, A reinvenção da prosa e da poesia (século 19), o centro é a escrita do carioca Machado de Assis, em Memórias póstumas de Brás Cubas, e da originalidade poética do maranhense Joaquim de Sousândrade.  

A obra de Joaquim Cardozo, engenheiro por formação, é visitada em O futurismo no Nordeste brasileiro, no terceiro capítulo, O modernismo e a reinvenção do Brasil. Neste, ao modernismo é resgatado o papel de ter ido além de mudanças estilísticas na arte nacional, impactando também o social. Do movimento, dedica-se páginas à compreensão do que fora o próprio modernismo, à poesia de Oswald de Andrade e Mário de Andrade e à prosa de Raquel de Queiroz e Graciliano Ramos.

Sobre o futurismo, Espínola garante que, entre os vários movimentos de vanguarda surgidos no início do século passado, ele “foi decerto o mais bem sucedido em termos de renovação estética entre nós”. E atribui a Cardozo, por Visão do último trem subindo aos céus, um dos mais originais poemas da língua portuguesa do século 20.  

De João Cabral de Melo Neto, o crítico literário lembra que muito se falou do lirismo racional, da secura cortante do estilo e da precisão da linguagem, mas, segundo ele, os poemas de João Cabral têm uma qualidade que salta aos olhos: a clareza das imagens. O pernambucano, completa o autor, “não teve medo de mergulhar na lama, tocar no sujo, ralar no áspero e no árido. Soube, além disso, dar peso e medida ao que via.”

No último capítulo, entre os 12 poetas contemporâneos com obras analisadas por Espínola, inclui o recifense Weydson Barros Leal, 58 anos. O artigo crítico foca em A quarta cruz, livro considerado pelo crítico como singular. “Ao dar precedência à ideia sobre a imagem, o autor empreende ampla visão sobre os grandes temas da poesia ocidental - a dor existencial, o amor, a morte, os dias vividos, a busca espiritual, os dias em torno etc. - sem o abandono do vigor conotativo da palavra”, acentua.

O cego e o trapezista, como bem aponta o autor, resulta de décadas de trabalho voltado para a literatura brasileira, sobretudo à poesia. Saca da gaveta “um certo número de ensaios e artigos críticos” que jogam luz sobre obras e autores indispensáveis à compreensão das letras nacionais. Entre eles, pernambucanos.

SERVIÇO

Lançamento do livro O cego e o trapezista: Ensaios de literatura brasileira, de Adriano Espínola
Quando: quarta-feira
Preço: R$ 45 (impresso) e R$ 18 (e-book)
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