Pernambuco.com
Pernambuco.com
Notícia de Divirta-se

LITERATURA

Vitor Tavares, presidente da CBL, fala sobre os bastidores da Bienal Internacional do Livro de São Paulo

Publicado em: 10/07/2022 16:00

 (Foto: Divulgação/CBL.)
Foto: Divulgação/CBL.
A 26ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo chega ao fim neste domingo (10), após nove dias com mais de 180 expositores e cerca de 3 milhões de obras. A semana inteira foi contemplada com obras de autores de todo o Brasil, de todos os gêneros literários, com todos as faixas etárias de público-alvo, além de grandes sucessos editoriais estrangeiros. Registrando recorde nas vendas de ingresso antecipadas, a edição do evento, que homenageou Portugal, foi vista como uma demonstração da imensa procura do público pelos livros tal como pela troca de ideias presencial.

Em conversa com o Viver, Vitor Tavares, presidente da Câmara Brasileira de Letras (entidade responsável pela realização da Bienal em parceria com o Sesc-SP), discutiu sobre seu histórico com o evento e falou sobre as diversas possibilidades do mundo literário que a Bienal oferece. 

Como começou sua relação com a Bienal e qual a primeira edição do evento que você frequentou?

"Tenho mais de 40 anos de profissão e a minha relação com a Bienal é muito antiga. Comecei numa livraria no centro de São Paulo, a Vozes, e automaticamente comecei a fazer eventos pouco depois quando passei a trabalhar com comercial, e nessa época fui à minha primeira Bienal, já que na escola infelizmente eles não promoviam caravanas para fazer visitação em eventos. Para mim a descoberta desse mundo foi tão encantadora, especialmente vendo aqueles corredores estreitos e tanta gente entrando de uma vez só, que eu ficava até me perguntando: o que havia de tão incrível para as pessoas se interessarem daquela forma? A gente que produzia evento ficava muito feliz de ver tamanha atração nas pessoas que visitavam. Ou seja, antes de tudo a minha relação com a Bienal é de enorme entusiasmo."

Como você tem avaliado a recepção do público a esta edição da Bienal?

"Eu fico encantado quando acontece o que vimos no dia da abertura, por exemplo. Estávamos gravando entrevista e de repente as crianças começaram a entrar com uma vontade que deixou o cinegrafista até assustado, perguntando se não deveríamos parar. Foi quando eu disse a ele que era aquela ansiedade mesmo que nós estávamos esperando e que nos deixa sabendo que essa sede pela literatura segue tão intensa entre os jovens. Se a gente trabalhar direito, o livro é algo totalmente viável economicamente para quem produz e um produto que transforma vidas. Qualquer país democrático, pequeno ou grande, tem necessariamente de ter uma produção literária rica. E um dado importante é que para montar uma Bienal como essa de São Paulo a gente movimenta entre funcionários diretos e indiretos cerca de 10 mil pessoas."
 
O que, para você, é mais determinante nessa procura das pessoas pela participação no evento atualmente?
 
"Na minha época não tinha esses espaços temáticos com debates, sessão de autógrafos, exibições e outras coisa mais, era basicamente a feira de livros mesmo. E hoje, mesmo com tudo isso, nós percebemos que o que mais atrai o público para a Bienal continua sendo a descoberta de novas obras, títulos que de repente só vão encontrar naquele momento. Essa aproximação do público leitor do seu autor preferido é uma coisa espetacular e um dos maiores atrativos do evento, sem dúvida."

Toda essa interatividade e presença de pessoas de diversas mídias poderiam ser vistos como um desvio do verdadeiro foco que são os livros, mas nota-se que as atrações se alimentam mutuamente. Por que isso acontece na sua opinião?

"É muito interessante na verdade como, com toda a tecnologia que a gente dispõe e que é tão importante na interação com os jovens, muitos fenômenos desse universo dos influenciadores acabam também ajudando na divulgação de livros, já que vários deles estão lançando suas próprias obras. O público os conhece através de redes sociais e outros meios digitais, mas no final também vão em busca dos livros físicos na livraria. Quando surgiram os livros digitais todo mundo ficou preocupado achando que os físicos iriam acabar. Não acabou. Se tudo estivesse em formato virtual não haveria nem a Bienal. A ideia é justamente essa interação presencial, essa proximidade com os autores, ver tudo de perto e sentir os livros. Vejo acontecer muito de um  livro ser lançado na versão digital e se tornar um grande sucesso e, a partir daí, muitos leitores vão atrás justamente da versão física. Então claro que é fundamental a gente trazer alternativas do virtual, da acessibilidade e das diferentes formas de leitura que a tecnologia oferece, mas o livro no papel mesmo nunca deve deixar de existir."

Com tantas coisas para administrar no cargo que você ocupa, ainda é possível encontrar tempo para acompanhar obras e autores?
 
"Natural que conforme a gente vai profissionalmente assumindo novos cargos, o tempo vai sendo reduzido até mesmo para leituras que muitas vezes a gente gostaria muito de fazer. Eu, como presidente da CBL, tenho de acompanhar tudo o que é feito na organização de um evento como o da Bienal, mas ao final, cada setor tem suas funções e a parte da curadoria é fundamental nesse quesito, pois é toda uma equipe responsável por fazer esse equilíbrio entre obras de fora e obras brasileiras, livros que se comuniquem com o público que a gente está esperando, o que as editoras têm de mais interessante e por aí vai."

Como fazer para encontrar o equilíbrio editorial certo na Bienal e abranger essa quantidade de autores, abrindo espaço para obras de todos os nichos?

"As editoras devem ser atualizadas a ponto de acompanhar o movimento social de vários recortes da população e dos assuntos que estão sendo debatidos nas redes sociais. Pandemia, questões econômicas, questões de gênero e tantos outros temas em alta estão refletidos na nossa produção literária, que é muito rica mesmo. Então na hora de a Bienal organizar esses estandes, existe toda uma equipe responsável por conversar com cada editor para definir os autores que eles têm de mais interessante e que vá atrair o público-alvo ao evento. É um equilíbrio bastante complicado divulgar e enaltecer a nossa produção nacional e simultaneamente trazer esses fenômenos de fora que, afinal, são muito importantes para as pessoas, e acredito que conseguimos fazer isso muito bem." 
Os comentários abaixo não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.
Consulado da RPCh no Recife tem nova cônsul-geral
Mergulho no Brasil é uma possibilidade para os turistas chineses
Cenas da China aparecem em meio ao barroco brasileiro e intrigam pesquisadores
Ao vivo no Marco Zero 09/02 - Carnaval do Recife 2024
Grupo Diario de Pernambuco