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CINEMA

Curta Redoma, de PV Ferraz, reflete sobre isolamento social e incertezas

Publicado em: 17/05/2022 16:57

No auge de um período de pânico e incertezas, bem no começo da pandemia, o recifense PV Ferraz começou a elaborar um projeto para refletir, da maneira mais sensorial possível, a sua experiência pessoal com o isolamento social. Com a entrada do bailarino Dielson Pessôa e do compositor Sam Nóbrega, o curta de ficção experimental Redoma, inteiramente rodado no apartamento de PV ao longo de dois dias no início do ano passado, terá hoje à noite a sua primeira exibição aberta ao público no Teatro do Parque, no Centro do Recife, a partir das 19h30.

A subjetividade do artista com relação ao tema escolhido foi visualmente encenada por coreografias - por ele mesmo criadas e desenvolvidas - e no modo como dispôs o apartamento e seus móveis, em função desse mergulho profundo de volta a uma fase tão caótica do mundo e do país. A escolha pela narrativa física, sem diálogos ou um roteiro definido, foi desafiadora para toda a equipe e, com o desenrolar da produção, o filme foi se transformando em algo quase surrealista. O fato de o projeto ter sido gravado na casa de PV, que já trabalha com audiovisual há dez anos, naturalmente despertou sua criatividade e conferiu exatidão ao processo das filmagens na representação de seu estado de espírito: o que está na tela, portanto, é a materialização desse seu inconsciente.

De acordo com o diretor, além de importante do ponto de vista criativo, a ambientação familiar foi muito libertadora para essa encenação, já que podia trabalhar com o espaço da forma como bem entendesse. Por outro lado, retomar esse assunto e essas sensações na sua “redoma” particular não deixou de ser um desafio mental. “O fato de que estávamos passando por um isolamento grande e de repente o meu espaço, no qual senti tanta coisa, estava sendo palco das filmagens, foi bem desgastante psicologicamente. Até porque, naquele momento da realização, as coisas seguiam muito incertas e assustadoras”, comenta.
 
Entre as relações postas no curta, de maneira exclusivamente visual, está o sentimento misto sobre a nossa casa num período de isolamento rígido, transformada simultaneamente em um casulo e em uma prisão. As imagens intensas das expressões corporais, que também podem entrar numa classificação de videodança, estudam o comportamento humano em uma situação específica de compressão pelas paredes do próprio lar.
 
Refletindo sobre a temática central de Redoma, PV afirma que, no meio de tantas angústias sentidas, o filme possui também os seus acenos otimistas. “Na época, estávamos totalmente no escuro: não sabíamos quando e se as vacinas iriam chegar, se era o fim do mundo ou não. Acho que o filme é muito sobre as fragilidades com as quais nos deparamos durante esse isolamento, ao passo que também descobrimos a nossa força, a nossa resiliência e nossa criatividade para encontrar saídas num caos como esse.

Dielson Pessôa, que deu corpo e movimento às ideias de PV, já havia sido dirigido anteriormente por ele nos palcos e comenta sobre a diferença e os desafios da linguagem cinematográfica no seu processo de interpretação. “No palco, a dança contemporânea exige explosão e complexidade em termos de repertório de movimentos. Redoma me trouxe esse grande desafio de reduzir a quantidade dos movimentos e encontrar uma intensidade conceitual e minimalista. Estamos falando de dor, de caos e de vida, vivências muito particulares sobre a pandemia, mas com gestos muito mais simples e profundos”, afirma Dielson.

O filme já foi exibido em vários festivais e mostras internacionais de cinema e videodança, como o britânico Lift-off Global Network, o 17º Festival de Artes Digitais de Atenas, o Festival EntreTodos de Curtas e Direitos Humanos, de São Paulo, e mais de 20 outras seleções oficiais. Satisfeito com o resultado e com a chance de finalmente compartilhá-lo com o público pernambucano, PV ressalta a força simbólica de assistir ao filme coletivamente. “É muito significativo estar compartilhando o filme com o público presencialmente. Acho importante nos juntarmos agora, passada grande parte desse momento representado na tela, para falar sobre o isolamento. O trabalho foi intenso e cansativo, e ainda está sendo, nessa fase da distribuição. Mas gostamos muito do resultado. E nada melhor do que fazer uma coisa na nossa cidade que deixa a gente e quem assiste orgulhoso.” 
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