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'Vou Ter que me Virar", novo disco da Fresno, está disponível nas plataformas (Camila Cornelsen/Divulgação) |
Na última sexta-feira, a banda Fresno lança seu novo disco, dando continuidade à um horizonte de experimentações sonoras e temáticas no qual o grupo se vê imerso durante os últimos anos. Batizado de Vou Ter Que Me Virar, o álbum de 11 faixas passeia por sintetizadores, violões, pelo punk mais sujo, pelo samba mais ameno, pelos lamentos e pelos gritos de raiva, abraçando o que há de mais expressivo tanto de um ponto de vista mais introspectivo, tanto como no mundo que os rodeia, em especial o cenário caótico dos últimos tempos.
“Desde Sua Alegria Foi Cancelada (disco anterior, de 2019), a gente começou a ter essa tristeza meio que sem solução na música. Com esse álbum, existe o pensamento de que vamos ter que nos virar de alguma maneira, apesar de tudo, porque estamos vivos, representando nosso sonho e nossa história. Quando a gente consegue ser sincero, as coisas acontecem, a gente foi muito sincero no disco passado, o que nos levou para muito longe e está acontecendo de novo”, elabora Lucas Silveira em coletiva de imprensa, vocalista e compositor do grupo, se referindo a bons frutos dos trabalhos, como a escalação no line-up do Lollapalooza, tanto o que foi suspenso em 2020, como o previsto para 2021.
Entre as diversas continuidades e amadurecimentos que vêm incorporados nos últimos anos da banda, o novo disco carrega olhares temáticos, que refletem não só a vida que vai ficando mais adulta, mas também um mundo muito diferente desde o começo dos anos 2000 pra cá. As canções de amor romântico nasceram em um Brasil que apresentava algum conforto e esperança no futuro, mesmo que já apresentando uma certa alienação nesse conforto.
“A gente foi percebendo coisas que estavam já se zoando. Vimos as manifestações de 2013, os movimentos de passe livre sendo cooptados pelo MBL. Essas coisas nos afetam diretamente, então depois de tanto investigar nossos dramas adolescentes, investigamos os nossos dramas adultos, de pai de família. Mas sempre falando dos dramas”, afirma Lucas. Faixas como a que dá nome ao álbum ou FUDEU!!! apresentam esses dramas de ser um adulto no Brasil de 2021, uma envolvida por beats e textura techno bem suave, outra por guitarras rápidas e gritos, em contrastes que dialogam. Sufocamentos, sobreviver, ser atacado, precisar lidar com si e com o mundo vão se repetir, mas sem exatamente se repetir.
São texturas e versos que encontram consonância no bem recebido disco anterior, em especial nas suas experimentações. A banda revela que realmente se trata de uma continuidade do que foi construído em 2019. “É uma continuidade em postura estética e pensamento de produção. Mais uma vez, não é um disco feito por uma banda tocando junta, ele é feito por partes. Uma postura de decidir qual música pede um beat, qual pede uma bateria. Não pensar no que a gente precisa fazer num show depois. É algo que vem do Sua Alegria. É um caminho que vai mudando”, afirma o baterista Thiago Guerra, o pernambucano do grupo.
É um momento que permite à banda experimentar coisas como criar novos arranjos para canções antigas, como é o caso de 6h34, presente em projetos paralelos de Lucas no qual ele diz colocar músicas que queria na Fresno, mas por alguns motivos, acabam não entrando nos discos. Também permite somar agora Lulu Santos ao leque de grandes parcerias em músicas da banda, que já conta com nomes como Lenine, Caetano Veloso, Tuyo, Terno Rei e Emicida. “A gente fez uma música com essa vibe oitenteira, com todos os timbre, eu falei que só faltava o Lulu Santos para ela ornar em um álbum como o Toda Forma de Amor dele, com essa batera desses timbres bem eletrônicos e pop. Lulu é o pai do pop. Às vezes eu fico obcecado com um artista, ouvindo com minha cabeça de hoje e ano passado foi o Lulu. Chamamos e ele cantou”, comenta Lucas.
O disco já está disponível nas principais plataformas de streaming.