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DANÇA

Deborah Colker traz resultado de angústias e aceitações do espetáculo 'Cura' ao Recife

Publicado em: 19/11/2021 20:21

'Cura' é apresentado no Teatro Guararapes neste fim de semana (Leo Aversa/Divulgação)
'Cura' é apresentado no Teatro Guararapes neste fim de semana (Leo Aversa/Divulgação)
Antes de chegar aos palcos do Recife neste sábado, o espetáculo Cura, da Companhia de Dança Deborah Colker passou por um longo processo de maturação, com viagens, conversas e observações do mundo, em um processo tal qual o de um cientista ou de um xamã na busca não apenas por soluções, mas por entender e aceitar os problemas. O princípio foi a epidermólise bolhosa de Théo, neto de Colker, que colocou as primeiras angústias sobre enfermidades, que por sua vez se tornaram entendimento e aceitação. Em seguida, veio a morte do astrofísico Stephen Hawking, em 2017, um homem que, para Deborah, “encontrou a cura para o que não tem cura”, entre a imobilidade que lhe acometeu pela esclerose lateral amiotrófica (ELA) e os lugares que ele chegou com seu trabalho.

A partir dessa jornada, que envolveu viagens para diferentes países, conversas e encontros com diversas manifestações culturais, Cura é construído em zonas intermediárias, passando pela ciência e pela religião, o mover e a imobilidade, a própria cura e a doença. “Partimos da história do Obaluaiê, que é o orixá, ao mesmo tempo, da cura e da doença. Abraçamos essas forças contrastantes, a força dentro da fragilidade, a bondade na maldade. Reconhecemos e olhamos com honestidade para essas contradições enquanto forças que estão ali e precisamos lidar”, explica Colker, em entrevista ao Viver. 

Para ela, o espetáculo é um projeto que parte de experiências desde o diagnóstico do neto, hoje com 12 anos, seu processo de aceitação e a transformação disso tudo em movimento.  Sua proposta evita a colagem e parte para a costura de conceitos filosóficos, científicos, cantos, danças e textos, passando por nomes que vão de Leonard Cohen a Jesus Cristo. Até o momento, Cura já passou pelo Rio de Janeiro e por São Paulo, sendo recebido de forma diferente em cada uma das apresentações, de acordo com Colker. 

E para guiar as ideias que fluem a partir dos corpos e do espaço do palco, a diretora voltou a recorrer à importantes nomes da música brasileira para construir as canções e os sons de Cura, algo que já havia feito ao convidar os pernambucanos Jorge Du Peixe e Lirinha, ao lado de Berna Ceppas, parceiro de longa data, para a trilha de Cão Sem Plumas, seu espetáculo anterior. De Pernambuco, ela vai até a Bahia para encontrar a direção musical, agora assinada pelo veterano e sempre inventivo Carlinhos Brown. Inicialmente, ele ficaria responsável apenas pela primeira canção, sobre o orixá Obaluaiê, mas rapidamente Colker optou por estender o convite para a direção musical.

“Eu sabia que ele não é só um percussionista, ele é um maestro, faz mágicas com os sons. Eu queria essas sonoridades mais primitivas, viscerais e ritualísticas, conectadas com a natureza e Carlinhos faz música assim, inventando sonoridades e incorporando a ancestralidade nelas, um gênio. Nossa trilha passa por sonoridades indígenas, africanas, judaicas, muçulmanas, católicas, além dos silêncios e dos mitos. E construímos isso não como uma colagem, mas com elas interagindo de uma forma híbrida”, afirma Colker.  

São músicas que habitam um espaço que abraça a instabilidade. No lugar de um plano horizontal, rampas criam uma outra gravidade e uma outra forma de se mover pelo palco, espelhando a fragilidade da mobilidade de quem é assolado por doenças. De cima, vêm os Obaluaiês, que transitam entre cenário e figurino ao serem ocupados pelos bailarinos. O espaço cênico de Cura ainda é ocupado por bandagens, caixas que se transformam em um muro e projeções que vão de codificações genéticas a clamores ritualísticos.
 
 

Cura chega ao Recife em um momento que era inimaginável, quando a sua construção começou, que a sensibilidade para suas ideias e propostas estéticas estivesse tão aguçada no mundo todo.  

“De repente, o mundo todo estava em uma situação de busca de cura, percebendo que parte disso é entender a doença. O mundo inteiro passou a reconhecer essa vulnerabilidade absurda a qual estamos sujeitos. Então cada público acaba fazendo seu próprio espetáculo, trazendo as suas dores, o seu isolamento e suas impossibilidades. Eu falo no espetáculo muito de isolamento. Na pandemia, vimos um isolamento necessário, mas também sabemos que há um desnecessário, com pessoas isoladas, invisíveis e excluídas. Coloco tudo ali para ser pensado”, conclui.  Cura é apresentado no palco do Teatro Guararapes neste sábado, às 21, e domingo, às 20h. 
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