 | |
Dos contos ao cinema, trabalhos de Odailta Alves e Marcelo Ikeda são exemplos da pluralidade de lançamentos do evento (NATHALIA TENÓRIO/MARCELO IKEDA/DIVULGAÇÃO) |
O leque de lançamentos da Bienal do Livro de Pernambuco é extenso em vozes, formatos, origens e linguagens. Dentre os mais de 60 deles, oriundos de todo o país, se destaca um deles, que tem suas origens a menos de 10 minutos do Centro de Convenções. Cria do Bairro de Santo Amaro, a escritora, professora e pesquisadora Odailta Alves, um dos principais nomes da literatura independente da cidade nos últimos anos, lança o livro Pretos Prazeres, uma coletânea de 50 contos eróticos construídos a partir das diversas vivências negras.
O projeto, que nasce a partir das angústias da pandemia, terá em seu lançamento uma conversa com a escritora e vereadora Cida Pedrosa e a professora Josane Silva. O evento será realizado na plataforma virtual na próxima sexta-feira (8), às 16h.
“As minhas inquietações na escrita de Pretos Prazeres foram de justamente fugir da dor. O contexto da pandemia é muito angustiante e de muita miséria, sobretudo para a população preta, que vive a vulnerabilidade social. Sair dessa narrativa da dor e tentar construir um projeto literário que fale do amor, do afeto e do desejo foi desafiante. Queria trazer a literatura para criar outras narrativas, não mergulhar na angústia que a pandemia nos deixou”, elabora Odailta.
Não é que a pandemia não atravesse as letras dos contos, ela aparece por lá, mas o foco não é na dor, mas nas estratégias de sobrevivência.“É um livro de literatura negra que não vai fortalecer a narrativa de que ela precisa ser sobre a dor, a resistência e o sofrimento. A busca é por outras possibilidades de nos representar, por meio do prazer. Não do prazer hiperssexualizado que a sociedade racista nos coloca, mas do prazer protagonizado por nós mesmos”, complementa a autora.
Do começo da escrita, em março de 2020 à primeira leva de lançamentos, em setembro do mesmo ano, Odailta se desdobrou para viabilizar seu confecção de forma independente, aos moldes do que já fez em sua trajetória, com títulos como Clamor Negro, publicado em 2016 e posteriormente adaptado em uma peça de mesmo nome, protagonizada pela autora no Espaço O Poste, ou Cativeiros dos Versos e Escrevivências. Encontrou pela internet uma editora paulista oferecendo uma promoção para edição de livro físico e partiu para preparar o livro e arriscar essa oferta. Na primeira leva, conseguiu vender 200 exemplares em um mês. Agora volta a lançá-lo nessa semana, na Bienal do Livro, com 400 exemplares.
“As respostas vêm sendo maravilhosas. Eu vendi para o Brasil inteiro, foi meu trabalho que mais saiu para outros estados. Encontro pessoas que dizem ter sentido a literatura despertando sensações no seu corpo, desaguando na imaginação. Diversas identidades se sentem representadas, pois é uma literatura plural, com elementos de terreiro, corpos trans femininos, masculinos, lésbicas, bi, hetero”, afirma Odailta, sobre esse primeiros passos do trabalho, que vem sendo atravessado por outras experiências, como uma dramatização realizada também pelo grupo O Poste.
OS CAMINHOS DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DO CINEMA BRASILEIRO
 | |
DIVULGAÇÃO (Marcelo Ikeda investiga trajetória da Ancine e das políticas públicas do cinema brasileiro dos últimos 20 anos) |
Dentro desse escopo de lançamento da Bienal, pautado pela diversidade e diálogo com outras linguagens, está o trabalho do pesquisador e professor carioca Marcelo Ikeda, que lança o livro Utopia da autossustentabilidade: impasses, desafios e conquistas da Ancine na quinta-feira, de forma presencial, às 19h, em uma conversa com o produtor pernambucano João Vieira Jr.. Na obra, Ikeda percorre os 20 anos da Agência Nacional do Cinema e seu impacto no desenvolvimento do audiovisual brasileiro das últimas décadas, do período de grandes frutos à intensa crise aprofundada durante o governo Bolsonaro.
“Os estudos sobre cinema brasileiro geralmente são muito voltados aos filmes e aos diretores. Mas nos últimos anos, têm crescido esses estudos acadêmicos sobre políticas públicas e legislação, é importante ter reflexões assim desse perfil mais acadêmico, porque os livros sobre o tema geralmente eram mais técnicos, ensinando produtores a captar recursos e coisas do gênero, para o mercado. Quis fazer essa reflexão acadêmica, autônoma, da importância da Ancine sem estar ligado diretamente aos produtores”, explica Ikeda.
Atualmente professor de cinema da Universidade Federal do Ceará, Ikeda conheceu o funcionamento da Ancine de perto, pois trabalhou na agência entre 2002 e 2010, pegando os primeiros anos de sua implantação e o período das três gestões de Marcelo Rangel, o qual considera como o “período áureo” do órgão e de implantação de políticas públicas para o setor, permitindo um cinema brasileiro maior e mais diverso.
“O livro nos faz pensar que sem políticas públicas, é difícil esse cinema ter um lugar sólido, por conta da invasão dos produtos dos oligopólios globais. Mas ao mesmo tempo, ele não é só um institucional da Ancine, ele também mostra algumas disputas de poder, as mudanças na transição de cada governo e os desafios não se conseguiu enfrentar. A agência conseguiu superar muita coisa, mas naturalmente tem alguns pontos que faltaria superar. É um balanço, mostrando a contribuição, mas também refletindo sobre alguns revezes e impasses”, aponta o autor.
É um caminhar de muitos frutos, mas que acaba chegando no atual momento de crise, recorte final do livro. Para Ikeda, é preciso se observar os atuais impasses da agência, que inclui conflitos na formação de sua diretoria, distanciamento dos produtores e ócio na criação de editais, de uma forma mais ampla, pois refletem uma política do governo atual, que acredita ter a cultura como inimiga de estado. “Eu procuro ver essa crise não como algo isolado, ela deve ser vista dentro dessa perspectiva das políticas para cultura e das próprias políticas governamentais e do papel do estado e seu tamanho”, conclui.
CONFIRA A PROGRAMAÇÃO DE LANÇAMENTOS
Hoje
13h: O sonho de Clara e Baltimore, de Alexandre Santos
Amanhã
13h: Duas faces de mim, de Emilly Barreto.
13h: Lua, a menina que adotou dois pais, de Ednaldo Andrade Barros
15h: Laboratório O Imaginário: Uma trajetória entre design e artesanato, de Ana Maria Queiroz de Andrade
15h10: Caótica- Antologia literária, de Adriano Sales
19h: Coletânea Ecos da resistência, de Erica Montenegro de Mélo
19h: Utopia da autossustentabilidade: Impasses, desafios e conquistas da Ancine, de Marcelo Ikeda
Sexta
13h: A Ilha Dourada, de Fábio Passos
15h: Dama inversa, de Antônio Mendes Carneiro Júnior
16h: Estudos das masculinidades na educação física e no esporte, de Fabiano Devide e Leandro Pries
16h: Pretos prazeres, de Odailta Alves
Sábado
11h: Do olhar: Investigações do percurso educativo da Galeria Janete Costa, de Mariana Ratts
11h: Coleção Cultura popular, de Ailson Barbosa
15h: Contos em três tempos: passado, presente e futuro, de Robson Santos de Oliveira
15h: Memento mori - Os sonetos da morte, de Carlos Newton Júnior
16h: Seu Emmanuel, quando o amor venceu a dor, de Lu Almeida e Manuca Almeida
19h: Azul sereno, de Ed Arruda
Domingo
11h: O mungunzá, a cartola e o cordel no viver pernambucano, de Shirley Rodrigues e Eulina Fraga
13h: A Igreja do Diabo, de Jorge Filó
13h: O vale dos meninos ciborgues e outras peripécias, de Maria de Fátima Vital Ferreira
15h: Big gatilho, de Jaqueline Fraga
18h: Vozes do Brasil: A linguagem política da independência, do senador Randolfe Rodrigues
19h: Negra sou: A ascensão da mulher negra no mercado de trabalho, de Jaqueline Fraga
Dia 11
11h: Sobre arte e fogo, de Mário Cysneiros
13h: Poemas do fim do mundo, de Frederico Spencer
15h: Coletânea Viva a literatura brasileira, de Rogério Generoso
19h: Navios cargueiros, de Marcos de Andrade Filho
Dia 12
11h: No quintal da Tia Maria, de Maria Cristina Tavares
15h: Escatologia pentecostal: A revelação sistematizada na teologia pentecostal, de Esdras Cabral de Melo
16h: Tita e o mistério do Velho Chico, de Victor Flores
17h: 5ª edição da revista Literatura e Arte no Ciclo da Alfabetização