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LITERATURA

Nova edição de Ficção em Pernambuco sintetiza 174 anos da história do gênero no estado

Publicado em: 01/09/2021 15:48 | Atualizado em: 01/09/2021 15:56

 (Foto: Cepe/Divulgação)
Foto: Cepe/Divulgação

A ficção produzida ao longo dos séculos nos ajuda a entender sociedade e história. O primeiro romance publicado em Pernambuco, por exemplo, foi Nossa Senhora dos Guararapes (1847), de Bernardino de Abreu e Castro, o que evidencia o protagonismo do catolicismo no imaginário do estado. Contudo, já existiu uma escassez sobre o gênero por aqui, visto que os registros de poesias e ensaios são bem mais antigos - a poesia data do século 16, com Bento Teixeira. Sintetizar tudo aquilo o que já se tem conhecimento é o objetivo do livro Ficção em Pernambuco - Breve história, que reúne ensaios dos escritores e professores Pedro Américo de Farias, Cristhiano Aguiar e Socorro Nunes. Originalmente lançado em 2013, ele ganhou uma nova publicação pela Cepe Editora no último dia 26, trazendo agora um panorama da última década.

A edição atualizada percorre os 174 anos de produção literária do estado, entre romances, contos, novelas e crônicas. Da primeira publicação, foram mantidos os textos assinados por Pedro Américo, que traz um panorama da ficção escrita entre 1847 e 2001, e de Cristhiano Aguiar, que faz leitura crítica do que foi produzido da primeira década do século 21 até 2011. A novidade é o ensaio da professora, pesquisadora e poeta Socorro Nunes, que apresenta um painel do que foi feito de 2011 ao ano passado. Algumas ilustrações foram excluídas, para deixar apenas as mais importantes, além de alguns contos inseridos nos ensaios, hoje facilmente achados na internet.

A proposta do livro é contribuir para o trabalho de pesquisadores e estudantes dos ensinos médio e superior. A fácil leitura, com 138 páginas, faz com que a obra seja um instrumento de conhecimento para leitores de todos os níveis. "A poesia é bastante pautada nas escolas e universidades. Os poetas fazem recitais e debatem. Não há muito trabalho com a ficção, que é algo mais restrito e aborda mais os 'autores nacionais', dos quais podem ser os pernambucanos, como Gilvan Lemos, Ariano Suassuna, Osman Lins ou Raimundo Carrero", diz Pedro Américo, que escreveu o primeiro texto do livro ainda em 2001, para o Jornal do Commercio.

"Esse panorama pernambucano é muito grande. O leitor vai se surpreender com a quantidade. Acredito que, tranquilamente, sejam mais de 200 autores citados em toda a história. Para quem não tinha a ficção como destaque, com poetas sobrando a cada esquina, até que é um número bom. Por fim, acredito que hoje em dia existam mais autores do que antigamente com as novas possibilidades de circulação das obras e também pelo maior número de editoras", conclui Pedro.

Há mais de 170 anos, o cenário da ficção era realmente outro. A obra aponta que um fator relevante para o desenvolvimento da ficção a partir do século 19 foi a consolidação da imprensa, que começava a ser hábito entre a população - o próprio Diario de Pernambuco se engloba neste contexto. A criação do curso jurídico em Olinda, em 1827, depois transferido para o Recife (atual Faculdade de Direito do Recife), também vai trazer a elite intelectual do antigo Norte para a nossa capital. Entre novos tipógrafos, papéis efêmeros dos jornais, a nossa tradição literária foi sendo germinada.

A partir daí, a obra mostra uma certa busca pela cor local, as escolas e movimentos literários, políticas públicas (ou a ausência delas), o impacto da internet, a formação do leitor, entre outros aspectos. "Ficção em Pernambuco é um título importante para se conhecer a trajetória da literatura do nosso estado, mostrando os autores, as fases, as questões comuns e individuais e, principalmente, a persistência e a força da escrita dessa ficção em terras pernambucanas", destaca o editor da Cepe, Diogo Guedes.

Para fazer um panorama da ficção contemporânea, Socorro Nunes teve a técnicas que já usava em suas pesquisas na Universidade Federal de  São João del-Rei. "Num primeiro momento, elaboramos um roteiro de perguntas que foi enviado para algumas 'pessoas-chaves' na política editorial, cultural e das universidades, todos ligados ao campo literário. Pedimos indicações e, no segundo momento, enviamos um novo roteiro para os escritores. Muitos desses escritores já foram premiados, reconhecidos", explica a pesquisadora, que também recorreu a veículos especializados. O levantamento chegou a quase 50 nomes.

"O nosso objetivo não foi demarcar tendências, então deixamos para perguntar diretamente a eles como viam a própria obra", diz Nunes, ao comentar sobre a possibilidade de traçar um perfil dessa atual cena literária. "Uma conversa sobre os autores para demarcar tendência seria um outro livro, mas podemos dizer que o quadro é bastante animador por um lado. É surpreendente a quantidade de autores, inclusive um crescimento, ainda tímido, de mulheres. O quadro é bem diversificado. Eles, inclusive, não se sentem influenciados um pelo outro. Eles próprios recusam essa ideia. É um quadro bastante polifônico e muito diverso."
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