 | |
Zé faleceu no mês passado, de insuficiência cardíaca, aos 67 anos (Foto: Máquina 3/Divulgação) |
A atmosfera junina sempre foi muito forte na vida de José Oliveira Rocha, o capitão Zé da Macuca. Geólogo por formação, ele se encantou com a musicalidade nordestina e fez da fazenda da família, em Correntes, no Agreste pernambucano, um espaço de difusão de cultura para todo o estado. Zé faleceu no mês passado, de insuficiência cardíaca, aos 67 anos. Para brindar o seu legado, o São João da Macuca terá o vermelho, azul e amarelo ainda mais fortes, eternizando a memória de quem sempre fez folia.
Hoje, véspera de São João, será realizada a primeira edição digital do evento, a partir das 19h, com transmissão pelo canal da Macuca no
YouTube. A programação contará com imagens históricas da Fazenda da Macuca, depoimentos e homenagens. A grade musical contará com Cláudio Rabeca convidando as cantoras Isadora Melo e Gabi da Pele Preta, Cláudio José e o Forró Orquestrado do Maestro Oséas.
“O São João sempre foi a festa mais esperada e mais íntima do meu pai, um apaixonado pela cultura nordestina. Macuca reflete o gosto cultural dele, a forma como pensa, sempre espontânea. Não é festa de interior, é a ‘festa interior', como ele gostava de dizer. Acredito que vai ser bem emocionante”, diz o produtor Rudá Rocha, filho de Zé. Pai e filho dividiam a missão de fortalecer a marca da Macuca, com a festa junina, o desfile do bloco de carnaval (sempre às segundas-feiras), o Festival Macuca das Artes e outras festividades.
 | |
Rudá ao lado do pai, o capitão Zé da Macuca (Foto: Divulgação) |
“O legado do meu pai será eternizado pela Macuca, que sempre foi o seu desejo. Eu guardo uma afinidade artística muito grande com meu pai, então a continuidade vai pela mesma linha”, afirma Rudá. Para receber a festa, a Fazenda da Macuca foi decorada com muitas referências ao início das celebrações, há 32 anos, quando o capitão Zé abandonou a carreira profissional para ocupar as terras deixadas por seu pai. Lá, aprendeu a cuidar das plantações e do gado e descobriu a existência de um boi mítico e brincante, que o fez abrir as porteiras e cobrir a região com festa.
Anos depois, Zé inovou ao levar forró para o Carnaval de Olinda e fez uma orquestra de frevo entoar o ritmo, sempre acompanhado pela figura do Boi da Macuca. “A fazenda foi comprada pelo meu avô, mas ela já existia com esse mesmo nome. E é lá que está toda a história da família, a nossa bagagem afetiva, unida pelas tradições rurais que se comunicam diretamente com as memórias culturais construídas por Zé. A tradição rural já era da família, e a tradição cultural foi implementada pelo meu pai”, conta Rudá. Ele conta que, em uma das reformas, o pai encontrou moedas que datam de 1869, confirmando a herança histórica do local.
Por muitos anos até o início da pandemia, o festejou levou uma multidão a percorrer as estradas em cortejo de Correntes a Poços Compridos e Baixa Grande. Cancelado pelo segundo ano consecutivo, a Macuca sofre com as marcas da crise. “É um momento trágico para o setor cultural, ficamos com os eventos online apenas, com arrecadação mínima e muitos músicos abalados. Para diminuir os danos para a nossa cultura, fazemos as lives como forma de manter a resistência, se manter próximo do público e presente no calendário cultural”, explica.
Para matar a saudade do forró agarradinho, do chão firme, do salão colorido e do cortejo que leva multidões para cortar uma longa estrada de terra, a dica de Rudá é preparar a casa e curtir o som nordestino. “Decora a casa, afasta o sofá e o centro, deixa a penumbra para criar um clima. Serão cinco horas de live”, diz, remetendo à característica principal da Macuca: o ativismo espontâneo, que resulta em uma confraternização cultural entre as culturas do interior e do litoral, entre o forró e o frevo, tradição e vanguarda.