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Bookgram: a geração que usa as redes sociais para incentivar o hábito de leitura

Publicado em: 05/04/2021 10:29

Apolo Andrade, criador do Leitor Albino, defende a leitura como um direito educacional desde 2016, mas aponta perigos das redes (Foto: Instagram/ reprodução)
Apolo Andrade, criador do Leitor Albino, defende a leitura como um direito educacional desde 2016, mas aponta perigos das redes (Foto: Instagram/ reprodução)

Se para alguns a literatura é vista como antiquada, uma geração de jovens tem provado o oposto ao utilizar das redes sociais para divulgar os seus livros favoritos e, consequentemente, estimular o hábito da leitura. Entre as várias plataformas, uma das mais ativas nesse nicho é a do Instagram, ao ponto de ter surgido até um termo específico para esse tipo de página: Bookstagram. Juntas, essas contas formam um micro universo dentro da plataforma conhecido como Bookgram, que tem crescido especialmente durante a pandemia.

Ao falar sobre leitura, corremos o risco de cair em uma visão reducionista do livro, especialmente das cópias físicas. A moda do kindle (leitor digital) e o crescimento das redes sociais redefiniram a relação do público com a leitura para algo muito mais amplo. “Inevitavelmente as pessoas estão lendo mais, mesmo que não se dêem conta disso. Lêem mais livros em seus diversos formatos (impressos, ebooks, audiolivros), mais notícias em jornais, tablóides, blogs e posts nas redes sociais, desde o papel, passando ao digital como Instagram ou Medium”, comenta Apolo Andrade, 21 anos, criador do perfil coletivo Leitor Albino (@leitoralbino), que debate sobre o mundo literário desde 2016, entre idas e vindas.

Uma outra razão apontada para o boom de Instagrams literários é a possibilidade de tornar uma experiência naturalmente solitária, como a leitura, em uma forma de união. A estudante de letras Rafaela Maria, 21, criadora do perfil Catábase (@catabase__), reflete que “principalmente durante a pandemia, as pessoas procuraram criar perfis porque elas não querem mais que a leitura seja um ato solitário, visto que já estamos solitários demais”.

Em um momento no qual clubes de leitura presenciais não podem acontecer, a internet também oferece uma saída. O sprint de leitura é uma modalidade de leitura coletiva que acontece por lives. A letrista complementa sobre como é natural irmos atrás de quem compartilha pensamentos e gostos em comum para aliviar o isolamento, e por isso ela realiza sprints diários na plataforma Twitch do seu projeto, Pera Sem Acento (@perasemacento), que já entrevistou também vários finalistas do Prêmio Jabuti.

Ainda que as livrarias de bairro continuem a fechar com a crise do mercado editorial, a venda de livros por e-commerce revelou um crescimento considerável em 2020. Segundo pesquisa da Neotrust, a venda de livros físicos e ebooks cresceu 44% em 2020 em relação ao ano anterior, chegando a 14,2 milhões de obras compradas pela internet no Brasil.

Com o tempo livre na quarentena, muitas pessoas se descobriram leitoras e passaram a buscar conteúdos de literatura que os ensinassem como escolher obras ou começar a ler clássicos. Foi nessa nova leva que em 2020 a estudante de direito Sarah Oliveira, 19, remodelou o seu perfil Feixe de Contradições (@feixedecontradicoes) para compartilhar escritos autorais e indicações literárias.

Entre as maiores contradições que essa geração tem que enfrentar, está o papel de incentivar a leitura em um espaço que costuma ser um grande vilão limitador desse mesmo hábito. Esse é um paradoxo reconhecido pela maioria dos criadores de conteúdo para Sarah. “Com um número limitado de caracteres em todos os âmbitos, parece não ser o meio mais adequado para disseminar conteúdos mais densos. No entanto, enxergando as redes sociais como o universo em que a sociedade habita e se comunica, percebo que o contato com pessoas de variadas origens e interesses é extremamente ampliado através delas”.

Criar conteúdo não é fácil. A pressão pela criação pode prejudicar a produtividade dos criadores que lutam diariamente contra os algoritmos. Apolo ressalta que a busca pelo engajamento e likes pode corromper esse trabalho de democratização da leitura. “Sempre que penso nisso lembro que não é por seguidores que falo sobre literatura na internet: falo para promover um direito vinculado à educação, e também por amor, mesmo que não garanta renda nenhuma. Alguns sacrifícios são necessários para um bem comum”, finaliza.

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