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MÚSICA

'Sempre me entendi muito múltipla', diz pernambucana Luna Vitrolira, que lança álbum

Publicado em: 30/03/2021 15:56

Captura do curta-metragem que acompanha o álbum (Foto: Estúdio Orra/Divulgação)
Captura do curta-metragem que acompanha o álbum (Foto: Estúdio Orra/Divulgação)


Ao conhecer a poesia que emana do Sertão do Pajeú, um nascedouro artístico de Pernambuco, Luna Vitrolira entendeu que esse universo não se resumia à palavra. "Era o meu corpo, minha presença e ação que também podiam fazer parte disso", diz, em entrevista ao Viver. Essa percepção guiou a sua trajetória artística como poeta, declamadora e performer, conduzindo-a ao teatro e grupos de poesia. Agora, também a leva para a música. Na última sexta-feira, foi lançado o álbum Aquenda - O amor às vezes é isso, que leva o mesmo título do livro  de sua autoria, finalista do Prêmio Jabuti em 2019 na categoria poesia. O projeto também conta com um curta-metragem homônimo dirigido por Gi Vatroi e Aida Polimeni.

As faixas são como declamações musicadas de poemas do livro, mesclando um caldeirão de sonoridades - jazz, maracatu, coco, funk, brega-funk, swingueira e rap - com beats pesados que dialogam com os conteúdos densos abordados. O projeto conta com nomes interessantes da música pernambucana e nacional. A produção musical, os arranjos, sintetizadores e os beats são do músico e pianista Amaro Freitas, companheiro de Luna, e que nesse trabalho revela um lado mais eletrônico. A cantora Xênia França, o poeta e cantor Lirinha (Cordel do Fogo Encantado), as percussões de Lucas dos Prazeres e os beats de Pupillo (ex-Nação Zumbi) também aparecem entre as dez faixas. Aquenda também ganhou um filme de 17 minutos, produzido com incentivo da Lei Aldir Blanc.

"Eu sempre me entendi muito múltipla", resume Luna. "A minha trajetória começa ali na poesia, que foi o alicerce. A poesia está em torno da linguagem. Não existe canção sem poesia, não existe cinema sem poesia. Ela está ali como fundamento e perspectiva de vida. Eu saí caminhando por aí." Ela revela que o desejo de fazer um trabalho na música é anterior ao de lançar um livro, embora tenha ficado nacionalmente conhecida pela publicação do Aquenda, lançado em 2018 após dez anos de trabalho.

 (Foto: Estúdio Orra/Divulgação)
Foto: Estúdio Orra/Divulgação

"Eu já vinha trabalhando ideias sonoras no quarto, com um programa que era muito básico. Comecei a circular esse trabalho junto com Amaro Freitas, dividindo com ele para conseguir processar minhas projeções futuras, conseguimos construir os temas e as sonoridades." A narrativa do disco, assim como o livro, fala sobre ancestralidade, amor e questiona o modelo romântico ocidental, discutindo temas que envolvem relações históricas da mulher com a sociedade patriarcal, indo de relações afetivas a violências.

Para a artista, o álbum traz uma nova perspectiva dos assuntos abordados. Não apenas pela mudança da linguagem, mas porque a literatura e os ritmos periféricos são recebidos de diferentes formas pela crítica especializada e por uma elite intelectual. "As coisas sempre se ressignificam. O livro tem suas próprias metas enquanto discurso, objeto e na área que ele circula. As palavras são potencializadas pela música indo ao funk para falar sobre a nossa liberdade, sobre autopertencimento como um gênero que é tão subalternizado. Nós tivemos essa busca de trazer uma coerência discursiva mesmo."

O filme de 17 minutos, que agrega a linguagem do audiovisual ao projeto, tem como cenário um canavial, para debates sobre questões políticas, sociais e sobre as raízes de Luna. "A minha família materna tem uma matriz ligada ao canavial. A minha avó veio adolescente para a cidade. O engenho enquanto casa-grande é um lugar político muito simbólico, que carrega muitas dores. A personagem vai atrás da sua origem, da sua matriz, da sua identidade, pensando na liberdade. Como quero debater o amor como local de prisão, o território do engenho também traz muito sobre isso, de um lugar onde as pessoas foram cativadas, ao mesmo tempo em que o trabalho procura uma estética de pertencimento."

Assista ao filme:

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