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CINEMA

Pernambucano Vertin Moura estreia na direção de curtas no Cine Arcoverde

Publicado em: 25/03/2021 09:41 | Atualizado em: 25/03/2021 11:13

O curta 'Histórias que se Cruzam' retrata dois nordestinos que se encontram em conflito com as contradições de São Paulo (Foto: Divulgação)
O curta 'Histórias que se Cruzam' retrata dois nordestinos que se encontram em conflito com as contradições de São Paulo (Foto: Divulgação)

Em formato virtual devido à pandemia, a 2ª Mostra de Cinema Independente de Arcoverde tem exibido diversos filmes e atividades formativas, como oficinas e debates, desde segunda-feira (22). O encerramento do evento está marcado para este sábado (27) e conta com a Sessão Especial Rocky Lane, promovida em homenagem à figura marcante do município que se vestia de Cowboy e defendia firmemente a memória do antigo Cinema Bandeirante.

Nessa Sessão Especial, que começa às 10h, será exibido a estreia do curta-metragem “Histórias que se Cruzam”, do multiartista Vertin Moura, que inclusive protagoniza o longa “Sertânia”, de Geraldo Sarno, também exibido como longa convidado nesta edição do Cine Arcoverde. O curta acompanha dois artistas nordestinos no centro de São Paulo tentando conciliar seus problemas no relacionamento e os dramas pessoais de serem forasteiros em uma cidade caótica e desigual.

Tendo começado sua carreira de atuação no teatro em 2004 e como músico em 2007, Vertin Moura, 30 anos, nasceu em Juazeiro (BA), mas logo cedo se mudou para Arcoverde e se considera também um cidadão pernambucano. Estreou no cinema em 2015 no longa “Big Jato”, do renomado diretor pernambucano Cláudio Assis, participou da série brasileira “3%” da Netflix e hoje é uma das figuras em ascensão no setor, já tendo competido com atores como Irandhir Santos na categoria de melhor ator do Festival SESC Melhores Filmes, de São Paulo. Em entrevista exclusiva ao Diario, o artista comentou um pouco mais sobre sua carreira e sua nova aventura na direção de um curta-metragem:

 

“Histórias que se Cruzam” é seu primeiro curta na função de diretor? Como foi a experiência de escrever e comandar um projeto independente seu?

Após trabalhar como ator em “Sertânia”, eu senti que dava para fazer um filme independente, sem recurso algum, com alguns amigos que conhecia. Eu fui inserido no caminho da direção por um convite do rapper paulista Yannick Hara, que eu conheci em um show meu e ele me pediu para fazer o videoclipe da música “Blade Runner” dele. Depois eu filmei o meu próprio clipe, o “Pássaro Só”. Mesmo partindo de uma vontade individual, eu pensei em um filme que tivesse o diálogo entre o indivíduo e o coletivo, trazendo os problemas que enfrentamos enquanto produtores de arte. Da falta de recurso, a gente cria uma narrativa na qual essa “precariedade” seja a própria crítica. Ele pega a falta de recurso e mostra o porquê dessa falta.

Como arcoverdense de coração, o que você sente ao ter seu curta fechando a edição virtual do Cine Arcoverde? 

Essa experiência é maravilhosa. Para mim, o filme estrear nesse formato virtual e sendo no festival produzido na minha cidade, por pessoas de Arcoverde e Recife, é maravilhoso. O advento da internet tem seus problemas, como as fake news, mas esse meio de certa forma tem salvado nossas vidas, porque conseguimos trabalhar e nos satisfazer em produzir arte. O filme não estar na tela do cinema poderia ser um sofrimento, mas acaba sendo uma benção já que o formato online faz com que o filme chegue a mais pessoas e mais longe. É o melhor jeito e é o jeito que a gente queria.

De que forma você definiria o seu curta “Histórias que se Cruzam”?

Eu não gosto muito de definições, mas entendo a nossa necessidade de fazer essas analogias. Acho que ele não é um falso documentário, porque se você for a São Paulo e andar pelos cantos onde o filme passou, vai ver que o curta documenta o real daquele espaço naquele momento. Existe a ficção também, somos dois atores (Vertin Moura e Camilla Rios) interpretando um texto criado e pensado. Mas gosto da definição de filme experimental, porque ela deixa essa resposta em aberto. Eu tô começando agora a dirigir, então não quero ser um diretor que começa já tarjado. Essa obra foi um sentimento e dele veio esse experimento social e artístico.

 

'Sertânia', do renomado Geraldo Sarno, é a segunda atuação de Vertin em longas e foi bastante elogiada pela crítica (Foto: Divulgação)
'Sertânia', do renomado Geraldo Sarno, é a segunda atuação de Vertin em longas e foi bastante elogiada pela crítica (Foto: Divulgação)

 

Um dos seus últimos trabalhos foi em “Sertânia”, que também foi exibido no festival e tem sido bastante elogiado pelo país afora. Como foi a experiência de trabalhar com um diretor consolidado como Geraldo Sarno? 

O filme “Sertânia” é sem dúvidas uma das maiores experiências que eu tive. Geraldo é aquele cara do Cinema Novo, do tempo de Glauber Rocha, então ele é um representante nato do cinema brasileiro. O “Sertânia”, por ser sua última ficção atual, que ele fez aos 83 anos, é um marco. É um filme que já nasce clássico, por ser dele e por ser um filme sobre o sertão, mas sem a história comum de heroísmo. O meu personagem Antão é um anti herói que representa o Brasil explorado e que é violento. Foi uma experiência que modificou a minha visão de cinema, o que me levou a fazer o “Histórias que se Cruzam”. Uma coisa que Geraldo me disse é que eu nunca devo me trair. Ele foi a primeira pessoa para quem eu mandei o meu curta e ele vibrou de casa dizendo que eu estava certo em fazer algo se sentisse que é a minha verdade naquele momento. Foi transformador.

Você já atuou, dirigiu filmes e produziu músicas. O que te faz tentar tantos formatos como multiartista? 

O poeta Jomard Muniz de Britto tem uma frase que explica o porquê do nordestino fazer tantas coisas ao mesmo tempo, cantar, dançar, tocar, escrever poesia, etc. Nessa fala ele dizia que a falta de tantos recursos e atenção para o nordestino faz a gente se expressar de diversas maneiras. Não estamos buscando o melhor jeito de dizer nada, na verdade a gente sente falta de tudo e essa falta de tudo nos leva a se expressar tanto. O que me faz testar esses formatos é a vontade de mostrar a minha verdade, que não é única, mas almeja o respeito à diversidade, ao diferente e ao outro. Por isso fazemos esse cinema buscando ser diferente para ser aceito no campo da diversidade, que na verdade é o próprio mundo.

 

Ainda é possível conferir algumas obras e atividades nesses dias finais do Cine Arcoverde, confira aqui a programação do evento.

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