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TEATRO

Retrospectiva 2020: em tempos de cortinas fechadas, espetáculo acontece nas telas

Publicado em: 29/12/2020 16:48 | Atualizado em: 29/12/2020 16:53

Os espetáculos foram suspensos tão logo o governo anunciou as primeiras medidas de contenção do novo coronavírus, ainda em março, e os artistas exploraram novos formatos. (Foto: Marcelo Lyra/Divulgação)
Os espetáculos foram suspensos tão logo o governo anunciou as primeiras medidas de contenção do novo coronavírus, ainda em março, e os artistas exploraram novos formatos. (Foto: Marcelo Lyra/Divulgação)


Em 2020, as cortinas das grandes casas de teatro pouco se abriram, e os dez minutos de intervalo entre atos foram substituídos por mais de seis meses de silêncio. Sem palmas, sem público e sem bilheteria, a classe artística enfrentou uma das maiores crises do setor. Por prescindir de público para performar seus trabalhos, uma dor era constantemente compartilhada: foram os primeiros a parar as atividades por conta da pandemia da Covid-19 e serão os últimos a voltar à normalidade. O momento é de incerteza.

Os espetáculos foram suspensos tão logo o governo anunciou as primeiras medidas de contenção do novo coronavírus, ainda em março. Em setembro, com a diminuição do número de casos, a gestão estadual autorizou a reabertura de casas do segmento, com limite máximo de cem espectadores e regras rígidas de distanciamento. Apesar de aparentemente positivo para o setor, o anúncio não convenceu os produtores culturais a promover evento, pois uma bilheteria reduzida não cobriria os custos de logística, produção e organização das atrações. Com a alta dos índices da pandemia novamente, a proibição foi retomada. E a tendência é que o mercado continue desaquecido.

Na ausência do palco físico, a saída foi o virtual. Muito se fala sobre a reinvenção dos artistas, da interpretação, cenografia e figurino, o criar, recriar e fazer dali surgir um novo personagem, às vezes até com os mesmos elementos. Neste ano, o mesmo conceito de adaptação foi aplicado às profissões mais atingidas, que precisaram lançar mão de novas ferramentas para desempenhar atividades até então apenas presenciais. Os cursos de formação artística on-line, que unem teatro com elementos de audiovisual, são exemplos bem práticos da presença da tecnologia moldando novas construções, e assim produzindo materiais híbridos.

Companhias teatrais também exploraram outros recursos e deram vida a novas experiências virtuais e multiplataformas, como no caso do grupo pernambucano Magiluth. O projeto Tudo que coube numa VHS: Experimento sensorial em confinamento apostou na utilização de várias plataformas digitais de comunicação e de fruição de conteúdo para contar uma história, e foi bem recebido pelo público e pela crítica especializada.

O êxito possibilitou uma parceria com o Sesc Avenida Paulista, que disponibilizou seu site para compartilhar a experiência. Foram realizadas duas etapas: na primeira, foram 1,6 mil espectadores do Brasil e mais 18 países das Américas do Sul, Central e do Norte, Europa e Ásia. Os atores concluíram 48.150 minutos de encenação, tempo equivalente a mais de 33 dias. No Brasil, foram contempladas todas as regiões, com espectadores de 21 estados e 161 municípios. A dramaturgia, escrita por Giordano Castro, narra uma história de amor de forma não linear.

Editais para aliviar a crise e a incerteza
Para minimizar os danos causados pela pandemia, instituições públicas e privadas de fomento artístico lançaram editais de emergência para amparar as cadeias produtivas, como o Sesc e o Itaú Cultural. No fim de junho deste ano, depois de três meses de incerteza, o Governo Federal sancionou a Lei de Emergência Cultural (Lei Aldir Blanc), um aporte de R$ 3 bilhões para financiar a cadeia produtiva nacional. Foi disponibilizado para o estado de Pernambuco um total de R$ 143 milhões, sendo R$ 74 milhões para ser gerido pelo governo do estado e R$ 69 milhões pelos municípios.

O Sesc PE lançou o #CulturaemRedeSescPE, chamada pública inédita, no valor de R$ 297 mil, para incentivar a produção artística local nas plataformas digitais. A ação contemplou propostas nas áreas de artes visuais, artes cênicas (dança, teatro e circo), audiovisual, literatura e música. Cada trabalho selecionado recebeu de R$ 500 a R$ 3 mil para ser desenvolvido. Foram mais de mil inscrições realizadas, com 161 ações escolhidas.

O primeiro edital de emergência Arte como Respiro lançado pelo Itaú Cultural, foi voltado às artes cênicas e teve o resultado divulgado no fim de abril. Foram mais de 7 mil inscrições e 200 propostas de dança, teatro e circo selecionadas, sendo 42 trabalhos produzidos e gravados em material audiovisual antes do cenário de isolamento, além de 158 trabalhos produzidos já no período de pandemia, incluindo propostas de cenas, performances, intervenções e espetáculos on-line. Pernambuco aprovou 10 projetos, dos municípios de Recife, Jaboatão, Belo Jardim, Igarassu e Riacho das Almas. As propostas foram apresentadas ao longo do ano. 

A Lei Aldir Blanc foi distribuída pelos municípios e pelo governo estadual de três formas: como renda básica emergencial aos trabalhadores da cultura, subsídio para manutenção de espaços culturais e por publicação editais, linhas de crédito ou aquisição de bens e serviços. O cadastro para as pessoas físicas só teve início em setembro, o dos espaços culturais em outubro, e o dos editais em novembro. 

Apesar da pressão por parte da classe artística, a Lei só chegou ao trabalhador de cultura em outubro, aos espaços culturais em novembro através das prefeituras e foi completamente distribuída no estado no mês de dezembro, quando a Secretaria de Cultura de Pernambuco (Secult-PE) anunciou o resultado final de sete editais, em um total de R$ 51,6 milhões em investimentos. Foram apoiadas mais de 2,3 mil propostas de ações artísticas de todos os segmentos da cultura. E os produtores culturais foram beneficiados com R$ 22,4 milhões do aporte estadual.

Teatro do Parque

Enquanto muitos teatros pernambucanos amargaram a solidão, outro teve presença massiva. Mas, por enquanto, não de público, e sim de arqutetos e trabalhadores da construção civil. Depois de dez anos em obras, o Teatro do Parque foi devolvido à cena cultural do Recife. O equipamento foi entregue com um novo projeto arquitetônico produzido a partir do restauro e da requalificação da estrutura física e de elementos decorativos, devolvendo ao espaço as características originais da estrutura de 1929, da art déco.

O cine-teatro foi reaberto em evento simbólico no dia 11 de dezembro. (Foto: Leandro de Santana/DP FOTO)
O cine-teatro foi reaberto em evento simbólico no dia 11 de dezembro. (Foto: Leandro de Santana/DP FOTO)


O Parque é o único teatro jardim centenário do Brasil e abriga três equipamentos culturais funcionando ao mesmo tempo: além de teatro, o espaço é também cinema e sede da Banda Sinfônica. Diante do cenário de restrições impostos pela pandemia, a reabertura, em dezembro deste ano, foi marcada por uma programação simbólica com dois dias de atividades e público reduzido.

Paixão de Cristo
Pela primeira vez em 53 anos, o espetáculo da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém, realizado anualmente no Brejo da Madre de Deus, no Agreste de Pernambuco, foi cancelado. A princípio, as apresentações realizadas no mês de abril foram reprogramadas para setembro, mas em julho a organização decidiu cancelar oficialmente a edição. O elenco da temporada 2020 já tinha sido anunciado: Caco Ciocler iria interpretar Jesus, e Christine Fernandes daria vida a Maria. Ainda fariam parte os atores Sérgio Marone (Pilatos), Paulo Gorgulho (Herodes), Juliana Knust (Madalena), entre outros artistas.

O espetáculo mais famoso do país na Semana Santa, realizado no maior teatro a céu aberto do mundo, reúne mais de 150 mil pessoas e gera mais de 3 mil empregos diretos e indiretos na cidade. Cerca de 400 atores e figurantes compõem o elenco, além de técnicos, eletricistas, sonoplastas, maquiadores, cabeleireiros e camareiras. O projeto de construir a cidade-teatro inspirada em Jerusalém (Israel), para abrigar encenações da Paixão de Cristo, foi idealizado por Plínio Pacheco em 1956, e a primeira apresentação se concretizou em 1968.

Luto

As cortinas também se fecharam, dessa vez de forma definitiva, para grandes expoentes do teatro. O ator paraibano Ednaldo Lucena, o eterno Anás da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém, faleceu aos 82 anos. O artista integrou o elenco desde o espetáculo inaugural. Aos 77 anos, o dramaturgo e crítico de teatro Valdi Coutinho também nos deixou neste ano. O ano de 2020 foi marcado ainda pela perda do ator e maquiador pernambucano Jô Ribeiro, da Trupe do Barulho.

Valdi Coutinho se foi aos 77 anos (Foto: Divulgação)
Valdi Coutinho se foi aos 77 anos (Foto: Divulgação)


Aos 77 anos, o dramaturgo e crítico de teatro Valdi Coutinho também nos deixou neste ano. Boa parte da carreira foi no Diario, dividindo a vida entre as quatro paixões: teatro, jornalismo, carnaval e futebol. Ele foi precursor do Baile dos Artistas, que sempre se localizou no cenário do carnaval pernambucano como um amplo espaço receptivo para o público LGBT.
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