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LITERATURA

Livro com cartas escritas por Dom Basílio, abade do Mosteiro de Olinda, é relançado

Publicado em: 05/10/2020 14:30

Relatos foram registrados em 89 cartas escritas em 1985 (Foto: Divulgação)
Relatos foram registrados em 89 cartas escritas em 1985 (Foto: Divulgação)

"Querendo ou não querendo, ser abade é ocupar um lugar de certa projeção, ainda mais em nossos mosteiros antigos, de tanto renome no país. O monge deve desaparecer, viver no esquecimento. O seu trabalho, com o respectivo resultado, é escondido. Ele não é nada, mas Deus é tudo". A reflexão consta em um das cartas escritas por Dom Basílio Penido, abade do Mosteiro de Olinda entre os anos de 1962 e 1987, compiladas no livro Caros olindenses, organizado por Ricardo Japiassu e Ana Margarida Müller. A publicação foi relançada no último mês e está à venda na Livraria Paulinas por R$ 30.

Os relatos foram registrados em 89 cartas escritas no ano de 1985, durante um período sabático. O livro reúne passagens religiosas e reflexões elaboradas em viagens por Jerusalém e Galiléia, em Israel, Faixa de Gaza, Áustria e Egito. As cartas foram enviadas para um grupo chamado por ele de "caros olindenses" e arquivadas no mosteiro. O material manuscrito foi digitalizado por Ricardo Japiassu e publicado originalmente no final de 2018.

"O livro é carregado por uma mensagem de fé, amor, esperança e se enquadra bem no momento que estamos vivendo, de pandemia. Dom Basílio não peregrinou para fazer turismo, mas para se reencontrar e ficar mais perto de Deus. Esse material não podia morrer em nossas mãos, então decidimos lançá-lo novamente em um momento em que as pessoas estão precisando de fé, de motivação", explica Japiassu. "É como rever um passado esquecido, que alegra. As cartas presentificam pessoas que estão ausentes, enquanto os diários marcam o dia a dia. É uma forma rara de ver esses dois gêneros literários que hoje em dia são tão pouco usados."

A obra carrega uma narrativa próxima a um diário pessoal, com datas, detalhes e vivências, mas se mistura com relatos detalhistas sobre os lugares visitados, análises teológicas e históricas e das citações de livros, filmes, músicas e poemas, como é refletido nesse trecho presente em uma das cartas: "Para mim, equivale a perguntar qual o sentido da vida. Esse tipo de pergunta, em geral, não é exclusivamente teórico. Trata-se da vida em geral, sem dúvida, mas trata e muito da 'minha vida'. A peregrinação é um símbolo da nossa vida".

Em reportagem do Diario publicada à época do lançamento, o prefaciador Marcelo Barros, irmão beneditino e que conviveu com dom Basílio, enumera três entre as várias interpretações das cartas. Barros fala da dimensão de "comunicação pessoal e quase íntima", "da profunda sensibilidade ecumênica, tanto no sentido da unidade entre as igrejas cristãs, como da valorização e diálogo com outras tradições religiosas” e de "um mergulho naquele tempo de Israel, do Brasil e do mundo".

Filho de almirante e formado em medicina, Dom Basílio atuou durante o regime militar, nos bastidores, em favor dos perseguidos políticos. Era amigo de dom Helder, e se conheceram no Rio de Janeiro. Foi monge beneditino e abade do mosteiro de Olinda, renunciando ao último cargo em 1987. Faleceu aos 88 anos, em 2003, hospedado no mosteiro, onde destinava tempo para leitura, meditação, oração, além de cuidar da limpeza e lavar roupas.
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