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PATRIMÔNIO

Grupo de frevo Guerreiros do Passo completa 15 anos de dança, pesquisa e luta

Publicado em: 25/09/2020 09:18 | Atualizado em: 25/09/2020 09:18

 (Foto: Eduardo Araújo/Divulgação)
Foto: Eduardo Araújo/Divulgação


O Recife do começo do século 20 passava por um intenso processo de urbanização e industrialização, com uma massa sedenta por liberdade após a abolição da escravatura e um calor costumeiro. Esse foi o cenário de germinação do frevo. O ritmo ganhou novos reflexos há exatos 15 anos na Praça do Hipódromo, Zona Norte da capital, com as apresentações e aulas de dança do projeto Guerreiros do Passo, atualmente formado pelos professores Eduardo Araújo, Lucélia Albuquerque, Valdemiro Neto e Laércio Olímpio. Conhecido por pesquisas que resgatam passos quase esquecidos e por um estilo que remete aos primórdios do patrimônio imaterial, o grupo suspendeu atividades por conta da pandemia. Mas o desejo de continuar difundindo o frevo o ano inteiro, mesmo sem patrocínios, continua vivo.

A história do grupo nasce dentro da Escola de Frevo Maestro Fernando Borges, na Encruzilhada, quando o espaço estava sob batuta do mítico Mestre Nascimento do Passo, que faleceu em 2009, deixando um vasto legado. Ainda em 2005, a saída do mestre da escola estimulou a debandada desses seus seguidores, que decidiram criar uma identidade própria. Os primeiros encontros tiveram passagens por Rio Doce e Jardim Brasil, em Olinda, até finalmente chegarem na Praça do Hipódromo. Até antes da pandemia, as aulas dos Guerreiros eram realizadas nas quartas, às 19h, e aos sábados, às 15h, com uma média de 40 a 50 alunos - chegando até a 60 durante o período pré-carnavalesco. As atividades são mantidas pelos próprios professores.

"Também começamos um projeto de pesquisa chamado Laboratório do Passo, a fim de resgatar passos do frevo que estão desaparecidos ou são pouco conhecidos, como cortando jaca, cortando capim, coice de cavalo, abanando fogareiro e enxada”, diz o coordenador Eduardo Araújo. “Fomos contemplados com o Funcultura de 2013 e elaboramos um relatório. Fizemos com que o espaço das aulas também fosse para colocar esses passos em prática. Criamos vários personagens que remetem ao frevo do passado", afirma.

 (Foto: Eduardo Araújo/Divulgação)
Foto: Eduardo Araújo/Divulgação


"O frevo hoje é dançado com passos limpos, mas a nossa proposta é outra. Tentamos buscar um frevo que foi evolução social e urbana do século passado, quando a prática da capoeira foi proibida e, sob o embalo das agremiações, surgiram os passistas. A libertação dos escravos, os ritmos cada vez mais rápidos. Todo aquele calor, aquele sol que fervilhava. ‘Vou ali para o frevo’, diziam", continua Eduardo. “Nós estamos na rua como pessoas espontâneas, quando entramos na orquestra. Não apenas para pensar no passado, mas também pregar um frevo que não é exclusivo ao carnaval. Frevo não é só carnaval. Frevo é terapia, saúde e bem-estar."

Em 2007, no centenário do frevo, os Guerreiros entraram em cartaz no Armazém 14 com o espetáculo O frevo, que conta a criação do ritmo. Todo ano a encenação é incrementada com novos movimentos. Em 2015, eles foram convidados para uma apresentação de Spok na abertura do carnaval, no Marco Zero. Historiadores começaram a pesquisar mais sobre o projeto, que ganhou registros até no livro do japonês doutor em educação física Chikashi Kambe, intitulado Estudo cultural da dança folclórica brasileira - Passo.

"Chegamos aos 15 anos precisando parar por conta da pandemia, respeitando os protocolos", diz Araújo. "Essa parada nos fez pensar em uma nova criação: o Quintal do Frevo, também no Hipódromo, que terá o objetivo de promover oficinas, encontros e aulas depois que a pandemia passar. O espaço pretende ser uma ampliação, pois não vamos sair da praça, mas queremos experimentar e fechar parcerias com outras instituições, fazer encontros. O Guerreiros do Passo hoje tenta tocar um movimento que chamamos de resistência, de luta, porque não temos apoio ou patrocínio. Queremos continuar lutando para que a sociedade possa continuar aplaudindo as nossas atividades."

 (Foto: Eduardo Araújo/Divulgação)
Foto: Eduardo Araújo/Divulgação
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