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CINEMA

Cineasta pernambucana é selecionada por selo criado para ampliar atuação feminina no audiovisual

Publicado em: 04/08/2020 15:12 | Atualizado em: 06/08/2020 15:35

A cineasta pernambucana Adelina Pontual com as atrizes Nilza Lisboa e Maria de Jesus Bacarelli no set de ReTrato (2012) (Foto: Gil Vicente/Divulgação)
A cineasta pernambucana Adelina Pontual com as atrizes Nilza Lisboa e Maria de Jesus Bacarelli no set de ReTrato (2012) (Foto: Gil Vicente/Divulgação)


Criado há três anos para ampliar a participação feminina no audiovisual, em um mercado no qual apenas um quinto dos filmes lançados comercialmente foi dirigido por mulher, o Selo Elas, iniciativa da distribuidora paulista Elo Company, tem entre os projetos em andamento, selecionados em 2019, o Martina e o Skylab, da cineasta pernambucana Adelina Pontual (diretora do premiado documentário Rio Doce/CDU). O longa revisita a queda da estação espacial norte-americana Skylab, em 1979, que mexeu com o imaginário popular ao propor relações sobrenaturais com o evento. A história se passa em Alegria, uma cidade fictícia no interior de Pernambuco, onde a pequena Martina e sua melhor amiga vivenciam fantasias de monstros e alienígenas prestes a invadir a Terra a bordo da estranha máquina.

O filme da Chá Cinematográfico, produtora fundada por Adelina e Chica Mendonça no ano 2000, está em fase de construção de roteiro. Além de Martina e o Skylab em 2019, a ficção De repente drag, da maranhense Rafaela Gonçalves, é outra produção nordestina contemplada na terceira edição do Elas, este ano. O selo promove consultorias com profissionais das áreas artística, executiva e jurídica para ajudar no desenvolvimento e na visibilidade da obra, como estratégia comercial do projeto e distribuição.

O fomento ao equilíbrio de filmes realizados por mulheres é necessário. Estudo realizado em 2019 pela Agência Nacional de Cinema (Ancine) mostra que apenas 32% das produções selecionadas em editais foram de mulheres. Dentro da questão racial, o abismo é ainda maior: apenas 5,7% foram de mulheres negras. Em 2018, a Ancine divulgou outro dado preocupante do setor, tendo como base os 142 longas brasileiros lançados comercialmente em salas de exibição no ano de 2016. Na direção dos filmes, 75,4% eram homens brancos, contra 19,7% de muheres brancas, 2,1% de homens negros... e nenhuma mulher negra.


"Nós precisamos desses incentivos, de desenvolvimento nessa área de criação. E que isso ocorra de maneira sedimentada, em todas as áreas, desde o roteiro, à direção, produção e equipe técnica. Em algumas áreas somos notadamente minoria, como direção e fotografia. Também há poucas mulheres técnicas, no som e iluminação, por exemplo. Ocupamos mais espaço em posições ditas femininas, como figurino”, explica Adelina Pontual. Ela é a segunda pernambucana a produzir com o apoio do Selo Elas, que auxiliou a execução do longa Amores de chumbo, da conterrânea Tuca Siqueira, há dois anos.

“Eu comecei a fazer filmes há muito tempo, fui a segunda mulher a dirigir filmes no estado. Ser minoria é uma coisa tão marcada. Eu não vou dizer que sofri uma experiência dolorosa de preconceito. Eu fazia parte do grupo, estava entre os realizadores da época, mas eu era sempre mulher, minoria. Piadinhas no set, até um certo corpo mole, uma falta de interesse que você não via em gravaç es conduzidas por homens”, lembra Adelina. De acordo com a diretora, é preciso naturalizar a presença feminina no cinema para se conquistar um espaço mais acessível para as mulheres.

“Já temos muito mais diretoras mulheres do que tínhamos antes, sem dúvidas, e talvez elas sejam essenciais para formar equipes igualitárias. Que escolham mais mulheres para trabalhar em todos os setores, impondo a presença, dando crédito umas àsoutras e destacando suas capacidades. Com isso, será possível ter frequência maior de mulheres no set”, constata.

Greta, diretora de Adoráveis Mulheres, foi uma entre tantas 'esnobadas' pela Academia (Foto: Divulgação)
Greta, diretora de Adoráveis Mulheres, foi uma entre tantas 'esnobadas' pela Academia (Foto: Divulgação)


Maior premiação da cinematografia mundial, o Oscar é anualmente criticado pelo pouco prestígio dado às mulheres em categorias de relevância. Neste ano, a ausência feminina na disputa pelo prêmio de direção alimentou mais a polêmica, incusive por deixarem de fora grandes trabalhos, como o norte-americana Greta Gerwig em Adoráveis mulheres. Em 92 edições, apenas cinco mulheres competiram nesta categoria. A última foi a própria Greta, com Lady bird, em 2017. Somente uma recebeu a estatueta, Kathryn Bigelow, por Guerra ao terror, em 2010.
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