Muitos comentam por que astrólogos, tarólogos, videntes e outros profissionais não previram que o ano de 2020 seria tão turbulento. Mas era possível mensurar algo assim? Na foto, a taróloga Priscila Ferraz (Foto: Divulgação)
Os dias que antecedem a virada de um ano são marcados por previsões, mapas, análises e apostas de astrólogos, tarólogos e profissionais holísticos para o ano seguinte. A discussão ocupa os espaços virtuais e se estende aos programas televisivos com o intuito de responder aos anseios de uma população que busca um recomeço, uma conciliação, um sinal do que investir no próximo ano ou simplesmente se dar bem no amor. Entre erros, acertos e exageros, os profissionais fazem leituras e previsões a partir do posicionamento dos planetas e de cartas de tarot.
Na chegada de 2020, não foi diferente, e grandes nomes da astrologia mundial lançaram as suas previsões. “Será um ótimo ano, com muita coisa acontecendo. Será um ano de prosperidade”, prometeu a conceituada astróloga norte-americana Susan Miller, em seu site Astrologyzone. Com a chegada da pandemia do novo coronavírus, os palpites desapontaram os seguidores da filosofia de vida. No Brasil, o famoso astrólogo João Bidu também foi alvo de críticas. Como os profissionais ignoraram as dificuldades que enfrentaríamos neste ano
Segundo a taróloga pernambucana Priscila Ferraz, responsável pela conta Diário da Bruxa no Instagram (@diariodabruxa), a numerologia leva os profissionais do tarot a identificar a carta que regerá o ano sob um olhar mais geral. Mas somente quando o ano de fato inicia, é possível entender melhor como serão os impactos sociais, o que será exigido, oferecido e cobrado das pessoas. O Imperador foi o arcano designado para 2020, ele representa o número 4, e foi escolhido a partir da numerologia (soma 2+0 2 0).
“A carta representa a organização e a estabilidade emocional, então eu esperava realização, não esperava tantos desafios. Com a pandemia, percebi como ela tem atuado: nós tivemos que refazer nossas rotinas, nos reorganizar. 2020 é de quem tem estratégia para enfrentar os desafios sem cair em histeria. Mesmo diante de uma situação difícil, é preciso manter a calma, poder e estabilidade”, destaca Priscila.Para ela, também é possível ler a chegada da pandemia como uma tentativa de ajustar a sociedade por dentro.“Vem como um alerta, uma reflexão de unidade para que as pessoas consigam apoiar umas às outras.”
Já o astrólogo pernambucano Wallace Fernandes (@astrowall) conta que era possível perceber uma grande conjunção dos planetas no signo capricórnio, no período que antecedeu a virada de ano em 2019. “Capricórnio tem a ver com estruturas, com a economia. E estando junto com outros planetas há um série de influências que são somadas e provocam o desequilíbrio, como o amadurecimento, os conflitos, o poder. Então sabíamos que 2020 seria impactante, mas não tínhamos como anteceder uma pandemia. Esse fenômeno de junção de planetas aconteceu também na década de 1920 e provocou uma grave crise na economia dos Estados Unidos, a hiperinflação, que resvalou na economia mundial”, explica.
O retorno dos planetas às suas posições acontecerá em meados de agosto e se dará de acordo com a velocidade de cada um. “Ao se movimentarem, os planetas vão influenciar mais a conexão uns com os outros. Será um movimento de saída do foco do poder e centralismo econômico para o senso de comunidade e humanidade”, destaca Wallace. Segundo o astrólogo, o período de pandemia tem causado muita angústia nas pessoas e a dinâmica de busca por autoconhecimento passou a ficar mais forte.
“A procura por atendimentos e análises de mapa natal dobrou. As pessoas buscam, em suas nuances e relacionamentos, revisitar áreas que ficaram por debaixo dos tapetes. É tempo de se conhecer.” Priscila também nota crescente procura por consultas de tarot e práticas terapêuticas da magia natural durante o isolamento social. “As pessoas estão precisando de segurança e conforto para lidar melhor com os problemas que estão vivendo, e as ferramentas holísticas fazem com que a gente lide melhor com as situações do dia a dia. As pessoas buscam um conselho e caminhos para se nutrir espiritualmente em momentos de crise”, explica.
A busca por tratamentos naturais já vem sido percebida por ela há três anos. “É um comportamento da nossa geração, há um número crescente de pessoas buscando novas formas de espiritualidade, e o meio esotérico permite que você tenha ferramentas mais autônomas, traz uma liberdade maior.” Priscila tem disponibilizado vídeos no Instagram sobre tarot e realizado atendimentos gratuitos para contribuir com a saúde das pessoas que estão se sentindo vulneráveis e sobrecarregadas. Pós-pandemia O “novo normal” que muito se fala em relação ao pós-pandemia deve vir com a ressignificação das relações pessoais. É essa a expectativa da taróloga. “Eu espero que traga uma consciência, um estilo de vida mais saudável. Que a gente consiga se colocar mais no lugar do outro, fortalecer nossos laços e perceber que a espiritualidade é um campo acessível e possível”, diz Priscila Ferraz.
Wallace lançou o podcast Trígonos, onde faz previsões relacionadas à lunação (Foto: Divulgação)
Já Wallace acredita que as pessoas passarão a vivenciar um momento de libertação pessoal. “Foi um período de longa conversa consigo mesmo. Muita coisa foi pensada e agora será colocada para fora. Talvez seja um momento para filtrar pela verdade e buscar viver a partir do que se identifica mais.”
O hobby que se tornou profissão Com mais de 77 mil seguidores, Priscila Ferraz se dedica à prática do tarot, magia natural (ervas e cristais) e bruxaria há seis anos. Formada em jornalismo e apaixonada por religião e horóscopos, ela começou a estudar mitologia em 2014 e se apaixonou pelas possibilidades de compreender o outro e o mundo através da natureza. “Comprei um tarot e comecei a treinar com minhas amigas e familiares. Com um tempo, fui recebendo muitos feedbacks positivos. A ferramenta transformou minha vida, me ajudou a ter auto confiança, me ajudou profissionalmente e me trouxe qualidade de vida. Então pensei que pudesse ajudar mais gente com isso”, conta.
Em 2016, ela profissionalizou o hobby, lançou canal no YouTube e começou a se dedicar ao Instagram, onde assumiu o arquétipo de “Bruxa”. “A figura da bruxa, das curandeiras e feiticeiras é, historicamente, de resistência. As bruxas eram mulheres que tinham conhecimento das ervas, tinham um poder e se conectavam com a natureza. Por isso, foram perseguidas. Então transformei a bruxaria no meu trabalho. O Instagram e o YouTube são como diários, onde eu vou contando o que vou fazendo”, explica. Desde o ano passado, Priscila passou também a ministrar cursos on-line de tarot e magia natural e já concluiu três turmas.
Coletividade Wallace Fernandes iniciou o trabalho pelo apreço por questões coletivas. “No começo disso tudo, eu achava interessante como os signos colocavam as pessoas em grupo, então passei a estudar e conhecer. Em 2015, passei a fazer consultas terapêuticas, mas foi dif ícil me ver cobrando por uma terapia holística, então isso também fez parte do aprendizado”, conta o astrólogo, responsável pela página @astrowall.
Um ano depois, Wallace passou a realizar, de forma mais constante, consultas on-line e presenciais, além de usar as redes sociais e divulgar os seus trabalhos e pesquisas na área. “Me conectar com pessoas todos os dias e me nutrir com as histórias delas acabou me trazendo estabilidade emocional, unindo isso ao prazer em estudar o tema, terminei tornando minha atividade profissional”, analisa. Neste ano, Wallace deu início ao podcast Trígonos, nas plataformas de streaming, onde faz previsões relacionadas à lunação, momento em que o Sol encontra a Lua.