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Carlos Eduardo Amaral (Foto: Edilson Bispo/Divulgação) |
O jornalista e crítico musical pernambucano Carlos Eduardo Amaral, que já publicou cinco livros-reportagens sobre músicos do estado pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), estreia no âmbito dos romances. O escritor, que também é compositor e arranjador, saiu da esfera musical no livro Sem relva, que aborda a relação antagônica entre um jovem estudante universitário de ciências sociais e o seu pai, um pastor evangélico. O estopim para o conflito geracional e ideológico se dá através de um protesto pela melhoria do transporte público no Recife. A rápida descrição do enredo revela temáticas bastante contemporâneas. Esse é o objetivo da obra: mostrar um Recife atual, fugindo de uma certa visão romantizada da cidade.
"O livro ainda aborda, de forma subjacente, o trabalho de base realizado pelas igrejas neopentecostais nas comunidades carentes e o sucateamento de determinadas corporações públicas, como a própria Polícia Militar", contextualiza Carlos Eduardo Amaral, em entrevista ao Viver. "O Recife de hoje também aparece na ausência de mobilização pela melhoria do transporte público, a abordagem da imprensa envolvendo os fatos ocorridos nesses episódios e até maus tratos aos animais ou preconceitos burgueses."
Sem relva começa com o pastor Godofredo, que prega em uma igreja neopentecostal da periferia, sendo comunicado pela polícia sobre a detenção do filho. O jovem participou de um protesto violento que resultou na captura de manifestantes que entraram em confronto com PMs. Após o episódio, pai e filho se veem obrigados a tratar suas diferenças, cada vez mais acirradas em um mundo dividido, durante os intervalos dos depoimentos prestados à polícia.
"O pastor e seu filho são justamente representações dessas forças que entram em contraposição na sociedade brasileira desde a segunda metade da década que estamos vivendo. No background, o universo cultural e espiritual de ambos são pano de fundo para expor um conflito geracional, familiar, que será revelado ao longo das páginas desse romance, na tentativa de uma resolução”, comenta.
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Capa de Sem Relva (Foto: Divulgação) |
Apesar de Sem relva não ser sobre música, o autor explorou o universo na obra ao criar uma dramaticidade semelhante à da música erúdita. Os títulos dos capítulos são escritos em italiano, pois a estruturação do livro foi feita sob a forma de uma ópera, o que possibilita adaptações para a música erudita, teatro e cinema. "Esse é um dos detalhes mais interessantes. Isso foi uma forma também de desenvolver o arco dramático ao longo das páginas", explica.
Formado em jornalismo e especializado em crítica cultural pela UFPE, Carlos Eduardo já recebeu prêmios como os da Fundação Nacional de Artes (Funarte), da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) e do Ministério da Cultura. Já apresentou trabalhos acadêmicos sobre música e ativismo político em Ottawa, no Canadá, e sobre música armorial em Buenos Aires, na Argentina. Na Cepe, o jornalista assina as livros-reportagens sobre vidas e obras de Clóvis Pereira (2015), Maestro Formiga (2017), Maestro Duda (2018), Getúlio Cavalcanti (2018) e Jota Michiles (2019). Os quatro últimos compõem o selo Frevo, Memória Viva, idealizado pelo autor. A iniciativa de redigir um romance surgiu no final de 2018. "Veio um impulso de dentro, algo que é necessário obedecer".
"Além de Sem relva, outras duas publicações vão completar uma trilogia desse projeto. Após esse romance sobre uma temática relacionada à terra, que é o transporte público, o segundo terá como pano de fundo um assunto relativo ao mar, e o terceiro, por sua vez, uma história relativa aos ares. Já iniciei o segundo, que vai aproveitar dois personagens desse primeiro, apesar das novas dinâmicas, cenários e personagens”, continua Carlos Eduardo.
A versão e-book de Sem relva se encontra à venda pela Amazon, enquanto a versão impressa pode ser encomendada ao próprio autor, através do e-mail audicoes@gmail.com. "O recado mais importante desse livro, assim como toda a trilogia, é de que podemos nos guiar pelo poder transcendente da fé. A fé tem se despedido de nossas vidas, com o surgimento dos problemas que nos afligem, mas ela é um caminho para superarmos tudo isso", finaliza.