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Notícia de Divirta-se

Dia do Orgulho LGBT

MaddaM estimula protagonismo feminino e inserção LGBTQIA+ na cena eletrônica do Recife

Publicado em: 28/06/2020 11:24 | Atualizado em: 28/06/2020 21:38

Registro de uma edição do MaddaM Music Lab, oficina realizada pelo coletivo (Foto: Pavoa/Divulgação)
Registro de uma edição do MaddaM Music Lab, oficina realizada pelo coletivo (Foto: Pavoa/Divulgação)


MaddaM. Palavra em palíndromo originada a partir das iniciais de Música, Arte e Dança-performance. Em Pernambuco, é o nome de um coletivo de música eletrônica criado em 2016 pelo casal recifense Nadejda Maciel, 36, e Dayra Batista, 31. A proposta surgiu para articular protagonismo feminino e inserção de mulheres, pessoas trans e pessoas não-binárias interessadas nesse gênero musical, mas que não encontravam espaço nos grandes eventos - capitaneados, majoritariamente, por homens brancos. Atualmente, o selo realiza festas e uma oficina que tem funcionado como laboratório para artistas fomentarem uma cena de música eletrônica underground e queer no Recife. Neste domingo (28), quando se comemora o Dia do Orgulho LGBTQI+, o Diario conta a história da MaddaM Music para pincelar esse universo.

Nadejda Maciel conheceu a música eletrônica na adolescência através de bandas como Depeche Mode e Information Society. Mais tarde, começou a ir a eventos e se encantou pela figura do DJ e seu poder de construir a atmosfera da noite. Ela hoje se descreve como uma DJ "open format", mesclando referências retrôs com house, synthpop e sonoridades regionais. Dayra Batista vem de uma família de instrumentistas, chegou a passar pelo Conservatório Pernambucano de Música, mas também se encontrou no eletrônico. Ela deixou o violino de lado para iniciar pesquisas em vertentes como afrobeat e afrohouse.

"Minhas playlists eram elogiadas por amigos DJs. Decidi iniciar uma carreira no ramo e fiz um curso, mas os convites para shows não chegavam", conta Nadejda. "Em 2014, parei para analisar aquela cena eletrônica, as programações, e notei que era um universo predominantemente masculino, com homens com o mesmo estereótipo, fenótipo e sonoridade. Ao mesmo tempo, a imagem da mulher sempre estava nos teasers, em flyers, como parte da experiência da festa. Isso me incomodava muito".

Nadejda e DJ Makeda (Dayra Batista), criadoras da MaddaM Music (Foto: Pavoa/Divulgação)
Nadejda e DJ Makeda (Dayra Batista), criadoras da MaddaM Music (Foto: Pavoa/Divulgação)


No Recife, predominavam - e isso ainda permanece, em parte - festas raves, que tocam os gêneros psy e trance. Também os grandes eventos de EDM, um gênero altamente comercial que tentava reproduzir a atmosfera do Tomorrowland, da Bélgica. Foi nesse contexto que Nadejda e Dayra decidiram fundar MaddaM. "O intuito era criar um ambiente onde nos sentíssemos valorizadas, respeitadas e tratadas como profissionais. Nos raros eventos em que éramos convidadas para tocar, nunca ficávamos em uma posição boa no line-up. Às vezes não tinha cachê. O contexto da noite também é propenso à vulnerabilidades para mulheres”, diz Dayra Batista.

Em diálogo com outras amigas DJs, o MaddaM começou a tomar forma. Atualmente, as residentes são Lilit, Dandarona, Karma, Avenoir, Lupe, a dupla Blue & Red e Lorena Lopez (projeções e vídeo mapping), além de Nadejda e Dayra Batista (com a dupla Nubian Queen, ao lado de Cecília Godoi, e o projeto Makeda). O coletivo trabalha com subgêneros do house e do techno, além de synthpop, afrobeat e drumming and bass, entre outras vertentes. "Nossos eventos são produzidos por mulheres, sejam cis, trans ou travestis, do palco à segurança. Fomos maturando a nossa concepção de evento, até que chegamos ao formato atual. O público LGBTQI foi se sentindo atraído por nossas festas.”

A MaddaM Music realiza duas festas. A Medusa, que homenageia a famosa figura mitológica, propõe um evento multissensorial, unindo música eletrônica, artes visuais e dança-performance. "É o mergulho em uma experiência. Sempre temos VJs que cuidam da estética visual de acordo com as músicas e performances. A ideia é brincar com a fronteira entre o que é esteticamente diferente e o sensível”. No carnaval, a Medusa tem uma reformulação chamada Troça-Eletro-Carnavalesca. O segundo evento é chamado Valentina e tem a proposta de juntar DJs com sons distintos para um set conjunto. "É uma espécie de desafio, mas quem ganha é o público", diz Nadejda. Essas festas já passaram por locais como 

Dandarona e Lilit, residentes da MaddaM Music (Foto: Pavoa/Divulgação)
Dandarona e Lilit, residentes da MaddaM Music (Foto: Pavoa/Divulgação)


O terceiro evento é o MaddaM Lab, uma força motriz que tem feito esse processo de eletrônico feminino e queer se multiplicar. "São dois dias em que fazemos rodas de diálogos com DJs experientes e iniciantes. Aparecem pessoas de várias áreas: teatro, cinema, artes gráficas. Cada profissional consegue conhecer outros com afinidade, e ali surgem projetos. No meio disso eu gosto de ensinar tudo o que sei sobre discotecagem, possibilitando novos talentos. Acredito que o laboratório começou a renovar e oxigenar a cena", conta Nadejda.

Entre as pessoas que passaram pelo MaddaM Lab está Cherolainne, nome artístico de Vic Chamaleon, que se tornou residente da festa Revérse - inicialmente formada por heterossexuais de classe média - e fundou o selo NBOMB Party, que já realizou edição no Clube Metrópole, a boate LGBT mais antiga da cidade. Em maio, ela foi uma das convidadas para estampar a capa da revista Elle, que está retomando atividades no Brasil. Outro exemplo é Libra, que fundou o selo Scapa ao lado de Anti Ribeiro, focado em música eletrônica afro-latina e com artistas negros. Essas festas integram uma cena já composta por selos como Hypnos, Revérse, Batescata (projeto eletrônico do Som na Rural), Festival 3001, entre outros. Entre as residentes, Avenoir (Ana Fernandes) chegou a lançar faixa pelo selo espanhol Vapour Trail Records. Blue & Red (Elisa Melo e Brisa Fernandes) moram em Natal (RN), onde conseguiram um espaço no Festival Mada, realizado na Arena das Dunas.

Nadejda e Avenoir (Foto: Pavoa/Divulgação)
Nadejda e Avenoir (Foto: Pavoa/Divulgação)


"Elas estão sendo reconhecidas por serem excelentes. Isso tem sido algo significativo para nós. Saber que podemos promover algo que impulsiona, divulga e reverbera o que tem dentro de cada um. Só é preciso um empurrão. Recife está tendo um boom de iniciativas eletrônicas. Algumas festas hoje até chamam algumas de nós para tocar, como uma forma de demonstração de apoio à diversidade. Mas isso só está ocorrendo porque nós, mulheres cis e trans, criamos nossas iniciativas. Nós colocamos o pé na porta e mostramos que merecemos participar", finaliza Nadejda. "Sabemos que é um trabalhinho de formiguinha. E que tudo seja mais saudável para todo mundo. Para que as pessoas se sintam valorizadas e livres".
 
Mês do Orgulho
A tendência das lives também chegou ao circuito eletrônico, com eventos realizados em rádios on-line ou plataformas de conferência. Mas o Maddam decidiu fazer uma campanha diferente para junho, o “mês do orgulho”. Elas convidaram 21 artistas para montar uma série de publicações, promovendo divulgação e visibilidade colaborativa. Os posts contam com foto e texto sobre a caminhada do artista, explicando sua linguagem, quais as mixtapes e em quais plataformas estão disponíveis. Em breve, o Maddam vai lançar um portal com todas as residentes, facilitando a fruição do conteúdo e possibilitando mais contratações.
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