 | |
Os trabalhos foram feitos durante residência, que durou cerca de cinco anos. (Foto: André Santa Rosa/ESP DP) |
Em sua residência no Recife e em Olinda, que durou cerca de cinco anos, o fotógrafo curitibano João Urban se conectou intimamente com a cultura nordestina. De certa forma, foi um reencontro com parte da produção cultural da qual o artista de 76 anos tem afeto desde os anos 1960, quando, na ditadura civil-militar, conheceu ídolos como os autores pernambucanos Manuel Bandeira e João Cabral de Melo Neto e o cineasta baiano Glauber Rocha. Um dos frutos artísticos dessa residência é a exposição Fotografia de João Urban em Pernambuco: A paisagem e o sagrado, que será aberta ao público nesta quarta-feira, às 13h, na Galeria Arte Plural, no Bairro do Recife. Ficará em cartaz até 25 de abril, com entrada gratuita. “Embora seja do Sul, a minha formação cultural é muito nordestina. Na verdade, depois da minha adolescência, o que eu mais li, o que mais vi de cinema e ouvi de música foram coisas aqui do Nordeste”, explica Urban.
Antes da vinda para Pernambuco, João Urban já tinha uma produção muito celebrada. Começou por volta de 1964, fotografando manifestações, passeatas e grupos de teatro durante o regime militar, quando chegou a ser intimado e interrogado pelos oficiais do governo. Entre suas produções mais célebres estão trabalhos documentais e de tom demarcadamente de denúncia, primeiro com a questão dos trabalhadores no livro Bóias-frias, vista parcial, de 1988, depois com os imigrantes poloneses que desembocou no livro Tu i Tam: Memórias da imigração polonesa (2004).
 | |
Foto: Divulgação |
Na exposição do Recife, a denúncia não é o enfoque, ao mesmo tempo que João Urban reitera seu repertório como artista. Dividida entre duas salas, no primeiro momento da exposição vemos uma relação do artista com as paisagens locais, muito ligada a uma ideia de observação do mundo ao redor, que mesmo sendo extremamente cotidiana, apresenta o seu quê de espetacular. Esse processo de observação de um universo ao redor é lido pelo artista através do fato de sua produção ser muito intuitiva. “Não sou um fotógrafo muito pensante, sou mais intuitivo. Minha fotografia não está vinculada a um pensamento fotográfico ou acadêmico, vem muito da minha formação cultural mesmo”, pontua. Ainda que separada em dois momentos, as paisagens transbordam para a sala, dedicada aos rituais realizados no Ilê Axé de Oxóssi, muito através de signos primordiais para espiritualidade como a árvore e as águas.
 | |
Foto: Divulgação |
O segundo momento é ligado à documentação de rituais. Assim como outras fases e projetos da vida de Urban, a motivação para o trabalho surgiu pela adesão da esposa, Jussara Salazar, no universo do candomblé, além do maracatu e dos afoxés. “Eu sempre acompanho as mulheres na minha vida, nesta questão da fotografia. Quando fotografei a festa de São Benedito, eu namorava uma moça de Campinas, que era muito ligada às festas de Aparecida. Depois do candomblé, entro nas fotografias de afoxés, lá em Curitiba, muito motivado por Jussara”, completa. Nessas 13 fotografias em preto e branco - exceto uma - João adentra o universo de cerimônias com um olhar para a espiritualidade e ancestralidade.
Quando veio morar no Recife em 2013, João Urban redescobriu as terras de que tanto seus ídolos falavam. Nesse sentido, a exposição celebra um fotógrafo com uma longa carreira, que em um misto de descoberta e reencontro, tem um olhar tanto estrangeiro, quanto familiar. “Quando eu estava trabalhando para selecionar as fotos, pensava muito na coisa do olhar estrangeiro. Que é aquela pessoa que vem de fora e consegue ver o que a gente do lugar não enxerga por estar muito claro”, explica o curador da mostra, Fred Jordão. É justamente através dessa chave que a exposição propõe um encontro com o que há de espetacular e cotidiano na cultura pernambucana, entre o vislumbre e o que nos é familiar.
Serviço
Fotografia de João Urban em Pernambuco: A paisagem e o sagrado
Onde: Galeria Arte Plural (Rua da Moeda, 140, Bairro do Recife)
Quando: até 25 de abril, de terça a sexta (13h às 19h) e sábados (14h às 18h)
Quanto: gratuito