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MÚSICA

Siba evoca seus bichos e apresenta novo disco, Coruja muda, em Olinda

Publicado em: 10/01/2020 10:16 | Atualizado em: 10/01/2020 10:56

Em Coruja muda, este singular artista pernambucano evoca animais como metáfora para falar de política e subjetividades humanas. (Foto: José de Holanda/Divulgação)
Em Coruja muda, este singular artista pernambucano evoca animais como metáfora para falar de política e subjetividades humanas. (Foto: José de Holanda/Divulgação)
 
Todas as fases e sonoridades da carreira de Siba são partes que compõem um grande músico. Da guitarra, instrumento que teve contato inicial na adolescência, até o grupo Mestre Ambrósio nos anos 1990, depois o mergulho na cultura popular em Nazaré da Mata, passando pela sonoridade elétrica mesclada com o maracatu, coco e outros ritmos de matriz africana. Esses caminhos são também um processo de descoberta e de amadurecimento de um artista com tamanha originalidade. Sempre tensionando os limites entre tradição e pop. Quatro anos após o sucesso do álbum De baile solto (2015), o cantor entra em mais uma empreitada de projeto solo, muito consciente e firmada nos muitos anos de investigação.

“Eu ainda vou virar bicho, que é tudo que eu sempre quis”, entoa Siba, em uma das faixas de Coruja muda (2019), seu novo disco. A coruja no título já evoca diretamente uma imagem animal que se faz presente durante todo o trabalho. O espaço indefinido e o animal como metáfora são os motes. Uma espécie de linha tangente para que o artista monte uma poética e discurso crítico muito contundente frente a situação política do mundo, mas também sobre as subjetividades humanas. “Dos bichos da criação, a aranha é a mais feia / Mas ela tem uma teia de boa conexão / Que é pra ter informação de todo bicho esquisito / Não posta fake do mito e nem vídeo de alguém que apanha / A internet da aranha só pega mosca ou mosquito”, canta, em Só é gente quem se diz.

Hoje, às 21h, o músico apresenta o trabalho para o público pernambucano, no Clube Atlântico de Olinda. Em entrevista ao Viver, Siba fala sobre motivações para o novo disco, as nuances políticas por trás dele e comenta sobre a sua trajetória.
 
"O humor é um recurso muito potente pra chamar atenção para o absurdo", diz Siba. (Foto: José de Holanda/Divulgação)
"O humor é um recurso muito potente pra chamar atenção para o absurdo", diz Siba. (Foto: José de Holanda/Divulgação)
 
Entrevista - Siba // músico, cantor e compositor

Como foi o processo criativo de passagem do De baile solto para o Coruja muda?
O Coruja muda nasceu da própria estrada do De baile solto, do momento em que a gente começou a tocar o disco. Justamente na estrada, fomos desenvolvendo sínteses mais bem feitas do que já era de interesse: a cultura popular e a cultura de rua, mas usando outros instrumentos. O Coruja muda vem de uma forma mais bem resolvida de fazer isso. Pensando também a ideia de que há um espaço de indeterminação do homem e o animal.

O disco tem tiradas cômica, com apontamentos bem políticos. Como funciona?
Isso está na minha verve de composição, que vem principalmente da poesia dos cantadores. O humor é um recurso muito potente pra chamar atenção para o absurdo. Os absurdos da sociedade que a gente constrói. Mas o humor tem também uma dose qualquer de alegria. Embora não se trate do objetivo em si do texto, acho que é uma ferramenta muito potente.

Também é muito forte essa relação metafórica com os animais, quase como uma poética. Como surgiu essa ideia de evocar essas “imagens animais”?
É muito comum a gente usar analogias animais para ressaltar um lado nosso mais interativo e menos racional. Também para ressaltar um lado nosso escuro. Imaginar o animal no outro é uma forma de negar a igualdade. E a gente vive agora momentos em que não só o Brasil, mas a América Latina caminha em direção ao fascismo. Isso é um recurso clássico da redução do outro, da negação da humanidade. Eu não queria fazer um disco diretamente político como o disco anterior, porque o momento já é de uma crueza no limite do suportável. Então procurei essa linha tangente em que pudesse construir algo.

O seu som sempre foi diaspórico. Ritmos da Zona da Mata do estado, mas que tem sua gênese nas sonoridades africanas. No disco novo existe uma faixa chamada Azda (Vem batendo asa), que é uma versão de um clássico da música congolesa, de Franco Luambo. Como surgiu essa ideia?
Posso dizer que especialmente a música de Franco tem sido uma referência muito importante pra minha sonoridade. Eu sempre quis um projeto só de música cantada em lingala, uma língua do Congo. Ela tem uma sonoridade muito próxima da nossa. Eu sempre acalentei esse projeto que sabia não ser capaz de fazer. Nele eu faria música não necessariamente baseada na tradução direta, mas a partir do som dessas palavras. Essa música que escolhi foi jingle de Franco para uma loja da Volkswagen em Kinshasa.

O álbum se encerra com uma regravação de Toda vez que eu dou um passo / o mundo sai do lugar. Como foi revistar essa canção?
Ela entrou também nesse processo de reformulação musical e de síntese do que já fazíamos. Em todos esses anos, o arranjo da canção foi migrando de acordo com as mutações do som. Houve um debate muito grande entre a banda se ela cabia não disco. Eu mesmo a via fora do disco, como um single ou algo assim. Não me arrependo. Mas foi mais parte de um processo de decisão coletivo.
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