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literatura

Biografia do artista pernambucano José Cláudio destaca simplicidade e erudição

Publicado em: 23/01/2020 15:50 | Atualizado em: 23/01/2020 18:35

 (Foto: Brunno Marcolino/Divulgação)
Foto: Brunno Marcolino/Divulgação

Os passarinhos, o cotidiano da população rural, as festas populares eas frutas dos engenhos da Zona da Mata de Pernambuco que recortam a infância do artista plástico José Cláudio se tornaram marcas de suas pinturas. Entender a obra é voltar à casa dele em Ipojuca, conhecer a loja do pai, onde aproveitava os embrulhos das mercadorias para desenvolver os primeiros desenhos. A mudança para o Recife, onde estudou e atuou como no Atelier Coletivo, virou o ápice de sua produção artística.

Em Aventuras à mão livre, biografia do artista, o jornalista Júlio Cavani resgata as memórias e constrói a narrativa de vida de um dos maiores nomes da arte de Pernambuco, que experimentou diferentes fases estéticas e múltiplas temáticas, passando pelo desenho, pintura, gravura, escultura, história em quadrinho, murais e literatura.  Lançada no último semestre, a obra terá evento com sessão de autógrafo nesta quinta (23), às 19h, na Garrido Galeria (Rua Samuel de Farias, 245, Casa Forte). O livro, editado pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), integra a coleção Perfis, sobre 15 homens e mulheres que construíram importantes carreiras no estado. O exemplar custa R$ 40.

“Eu já admirava José Cláudio como artista, conhecia parte da obra dele, mas não o conhecia pessoalmente. No primeiro contato, a conversa fluiu bem. Tive sorte de biografar um personagem que estava disposto a falar. Ele conta bem as histórias e reúne bem as memórias de todas as fases de vida. Foi legal fazê-lo revisitar suas histórias. E ele achou interessante alguém disposto a reunir os seus relatos”, conta Júlio Cavani.

“Eu me propus a começar do zero. Encontrei José pela primeira vez sem ter feito muitas pesquisas. Cheguei lá para ouvir a vida dele, usando o próprio como fonte principal. E a partir daí fui seguindo uma ordem cronológica, da infância, adolescência, trabalho, amadurecimento. Após o primeiro contato, passei a ler, entre uma entrevista e outra, um artigo ou livro autobiográfico dele. Esse material servia tanto para me sugerir perguntas quanto me guiar para investigar alguns detalhes”, explica.

 (Foto: Reprodução/José Cláudio)
Foto: Reprodução/José Cláudio

Conhecido pelos trabalhos coloridos e figurativos, José Cláudio teve a juventude mergulhada em aprendizados com Abelardo da Hora, Carybé, Mário Cravo, Arnaldo Pedroso d’Horta e Di Cavalcanti, e se consagrou como artista no circuito da arte contemporânea, nas décadas de 1950 a 1970, quando desenvolvia desenhos e gravuras considerados mais experimentais. Durante o período, o Atelier Coletivo foi o grande espaço de experimentação do artista. A fase é abordada em várias passagens no livro, como no capítulo Dos carimbinhos aos quadrinhos, onde o autor descreve a formação e experiência do artista com xilogravuras e a estreia nas tirinhas de HQ.

“Entre as décadas de 1950 e 1970, José Cláudio recebeu prêmios como melhor desenhista do Brasil. Eu queria ter mais contato com as obras produzidas por ele nesse período. Muitas foram vendidas e estão espalhadas pelo país, mas seria importante um estudo com todos os trabalhos que ele produziu nesse período. É de uma riqueza artística muito grande”, salienta Cavani. As narrativas de vida de José Cláudio foram colhidas por Cavani em15 conversas presenciais na casa do artista, com duração média de duas horas, sempre no início da noite. O horário, escolhido por Cláudio, tinha por objetivo livrar a claridade do dia e da tarde, que o artista usa para pintar telas em seu ateliê, que funciona no térreo da casa onde mora, no bairro do Monte, em Olinda.

“Eu procurei transmitir a espontaneidade de José, a forma como ele trabalha e idealiza tudo com naturalidade e calma. Quem conversa com José Cláudio percebe que ele é simples, mas por dentro é profundo e erudito. Ele anda com naturalidade por feiras públicas, da mesma forma que circula em eventos intelectuais. Ele nunca perdeu a simplicidade, apesar de toda riqueza imaterial”, destaca. Para pesquisas estéticas, José Cláudio viajou pelos EUA, Europa, África e diversos estados brasileiros, como Amazonas, Bahia, Rio e São Paulo.

O autor do livro destaca ainda a grande paixão do artista: o carnaval do Recife, a festa que guiou a temática de obras por mais de duas décadas. “Sofri muitas mudanças na minha vida, mas uma coisa não mudou: a idolatria pelo carnaval do Recife. Não tenho mais pernas para acompanhá-lo, mas me sinto inteiro e novo quando ouço um frevo de Zumba, de Capiba e por ai vai...”, escreveu José Cláudio, em crônica publicada na Revista Continente, em novembro de 2017. Em 2012, o pintor foi escolhido como homenageado da folia recifense. Nada mais justo.
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