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Banda Eddie lança EP com frevo social e 'para o ano todo'

Publicado em: 27/01/2020 15:07 | Atualizado em: 29/12/2020 22:12

Banda Eddie. (Foto: Clara Gouveia/Divulgação)
Banda Eddie. (Foto: Clara Gouveia/Divulgação)


Com a chegada de um novo ano, Pernambuco se volta para o carnaval. E foi justamente assim que a Banda Eddie, com 30 anos de carreira recém-completados, iniciou 2020. Ainda na manhã de 1º de janeiro, o grupo disponibilizou nas plataformas digitais o EP Atiça, o lado A de um novo álbum, com segunda parte programada para abril. O projeto lançado é composto por cinco faixas que dão continuidade à identidade musical da banda, mas desta vez, se comparado a outros trabalhos mais recentes, aprofunda-se mais no frevo - e isso já fica claro na capa, ilustrada com um passista e uma sombrinha.

Atiça centra mais fogo na carnavalidade, sempre dialogando com a linguagem do rock e dos sintetizadores eletrônicos, mantendo coerência com o repertório do grupo. As letras, no entanto, evitam o carnaval e abordam problemas sociais de forma bem sutil. “Buscamos o potencial do frevo enquanto ritmo. Queríamos muito abordar o carnaval, mas fugir do tema carnavalesco como vemos geralmente no frevo, porque não tínhamos nada a acrescentar nesse sentido”, explica o vocalista e guitarrista Fábio Trummer, que voltou a morar no Recife em junho. Ele compõe a atual formação do grupo ao lado de Alexandre Urêa (percussão e voz), Andret Oliveira (trompete, teclados e sampler), Rob Meira (baixo) e Kiko Meira (bateria).

“Também fugimos do carnaval na temática para que a música não ficasse limitada a esse período apenas. Quem sabe você não dança frevo no São João ou em um evento de rock? Ou de música eletrônica? Fizemos um jogo de buscar temas comuns ao universo do rock e do pop. É bacana porque, fazendo isso, dá para conseguir algum frescor nesse território do pop, que hoje em dia está com produção em alta pela maior facilidade na produção.”

Banda Eddie. (Foto: Clara Gouveia/Divulgação)
Banda Eddie. (Foto: Clara Gouveia/Divulgação)


Temáticas que envolvem problemas sociais e até um cunho político são universos que a Eddie deixou de explorar em Mundo engano (2018), por exemplo. No novo trabalho, um dos trechos mais memoráveis está na faixa-título: "Essa dor que a gente sente, tá doendo em Santiago", em referência à revolta na capital chilena. "Choveu bala ontem à tarde / Sangue, lápis e papel / No desenho infantil, a morte é ruim e cai do céu", diz em outro trecho, sobre o Rio de Janeiro.

Para Fábio, no entanto, a política se tornou um assunto enfadonho nos últimos anos por conta das redes e da polarização. "Eu diria que fizemos um trabalho mais social, mas nunca político ou ideológico. Apenas agora conseguimos falar de uma forma que não está repetindo assuntos em pauta, mas sim enquanto grupo social. Desde o começo da banda, nunca quisemos fazer algo que ficasse datado. Os problemas hoje continuam sendo a desigualdade, mas também uma religião (tema da faixa Apocalítico) que tenta entrar na vida de todo mundo. Vejo isso como algo provocador".

A ideia de dividir o projeto em dois lados, lançados em diferentes momentos, veio por vários motivos. Fábio explica que gravar um álbum inteiro requer muito tempo, então adiantar a primeira parte vem de um desejo cronológico. "Como estamos homenageando o frevo, conseguimos pegar a época do carnaval. É comum hoje que as pessoas fiquem lançando vários singles, como a Mombojó fez recentemente. Quando formos lançar o lado B, haverá um outro furor dos fãs de novo. Isso ajuda nós, que somos artistas independentes, pois não temos tanta grana para investir em publicidade", justifica.

Banda Eddie. (Foto: Clara Gouveia/Divulgação)
Banda Eddie. (Foto: Clara Gouveia/Divulgação)


Os lados também possuem diferentes conceitos de produção. "Essa leva lançada agora foi produzida dentro de nossa metodologia tradicional: ensaiamos bastante, solucionamos nossos problemas nesse período e só ai entramos no estúdio. O lado B será o contrário. Temos composições prontas, mas vamos entrar no estúdio para resolver os problemas durantes as gravações, o que pode mudar muita coisa", diz Fábio. "Esse também é um álbum em que pedi bem mais composições aos meninos. Eu queria muito ter ideias dos outros caras e temos uma participação mais forte do Rob Meira."

Entre as cinco faixas, uma é regravação. Na veia, do grupo Cordel do Fogo Encantado, foi revisitada com participação da pernambucana Sofia Freire. “O Cordel pediu para que eu gravasse uma versão dessa faixa para soltar como se fosse uma homenagem. Eu gostei muito do resultado e decidimos fazer essa por sua ligação ao frevo." Sobre a participação de Sofia, que é expoente de outra geração pernambucana, o vocalista aponta que a voz feminina consegue trazer outra leitura da música.

"Também me interesso por esses movimentos geracionais da música. Sempre achei que precisávamos de uma música nova, porque não é saudável ficar parado no tempo. Há dois anos, não conseguiu vislumbrar isso, mas agora consigo enxergar Sofia Freire, Flaira Ferro ou Almério. É tempo de um novo trabalho autoral legal." Trummer ressalta, no entanto, que essa nova cena ainda terá um tempo maturação para se tornar uma "vitrine fora do estado", como se deseja. "É por aí. É preciso ter um pouco de calma e continuar trabalhando muito."

Ouça o EP Atiça:

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