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Pernambucano Fred Caju leva publicações independentes para Bienal; Confira entrevista

Publicado em: 09/10/2019 08:30 | Atualizado em: 09/10/2019 10:15

Foto: Jan Ribeiro/Divulgação
A XII Bienal Internacional do Livro de Pernambuco, que tem como mote Histórias para resistir. Em 2019, com o mercado editorial em crise, os produtores se queixando que os recursos públicos para incentivo à cultura estão cada vez mais escassos, o evento tenta pensar em possíveis rasuras dentro de um cenário difícil. A Bienal conta com mais de 100 expositores e estará no Centro de Convenções de Pernambuco, no Bairro do Salgadinho, até domingo (13), das 10h às 22h.
 
Pensando nesse panorama, o Viver entrevistou Fred Caju, 31 anos, formado em história na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), escritor e editor da Castanha Mecânica, um selo de livros independentes. Fred é um dos articuladores de Mostra de Publicações Independentes (Mopi), grupo que conta com mais de 10 editoras independentes e artesanais, que vêm lutando para contornar os obstáculos estabelecidos pelo mercado. A Mopi participará da Bienal pernambucana com estande e promovendo diversas rodas de debate.
 
Entrevista - Fred Caju, escritor e editor
 
Foto: Jan Ribeiro/Divulgação
Existe um longo percurso para um leitor apaixonado pela literatura chegar ao ponto de ter sua própria editora. Qual foi seu primeiro contato com a literatura? 
A literatura veio para mim ainda no tempo do colégio. Eu lembro de ficar muito encantado com João Cabral de Melo Neto e pensar “Isso é daqui, da minha terra”. O fato de ser um grande escritor e ser pernambucano gerou certa empatia em mim. Outro agente muito importante na minha formação foi o falecido site Interpoética, criado por Cida Pedrosa e Sennor Ramos, que conheci ainda em 2006. O site era muito rico, tinha e-book, matérias, poemas e foi muito importante para minha formação. Depois conheci uma galera do movimento cartonero, aprendi um pouco sobre produção independente e sustentável. Comecei fazendo livros artesanais, não cartoneros, mas muito influenciado por eles. 
 
Como foi o começo da sua editora, Castanha Mecânica? 
A editora começou com o e- book. Sou formado em história, então não tinha muito o conhecimento de como fazer o livro. Acabava que a estética se tornava parecida com a de um livro normal. Isso me levou ao livro físico e o analógico. Aqui no Recife, infelizmente, não temos centros de formação para publicação e edição. Então fui aprendendo na prática e, como disse, o pessoal do movimento cartonero me ajudou muito, por olhar para a potência de diversos materiais. Tenho livro com filtro de café e feito com casca de ovo. Eu trabalho muito pensando o livro como um excursão narrativa dele. Trabalho em cima do que há, sempre aberto para a questão de materiais disponíveis.
 
A publicação independente é também uma maneira de empoderar certas vozes que não tinham espaço no mercado editorial mais corporativo. Qual é a potência desse tipo de iniciativa independente, que pode ser a possibilidade de publicação para muita gente?
Cada um tem seu modo de fazer e seu recorte. Eu, preferencialmente, procuro publicar escritores negros e negras. Eu lancei um edital em 2017 e neste edital eu levava em consideração a qualidade do livro, mas também fazia recortes por meio de um questionário para saber se eram pessoas engajadas. Acabei publicando Patricia Naia, Bell Puã, Bione e Olga Pinheiro, as quatro autoras do slam das minas.

Dentro de um momento em que impera uma lógica da tecnologia e internet, que vai aos poucos abandonando o analógico, queria saber qual a força do livro, como objeto carregado de afeto e narrativas? 
Pensando nesse cenário, eu não deixei de atuar no virtual, mantenho o livro físico e o digital disponíveis. Acho importante ter os dois formatos, porque eles podem coexistir. Minha perspectiva é mais usar recursos diversos para pensar o livro fora do que se espera. Não estou muito interessado nos leitores que fetichizam o livro, não tenho nada contra, mas não é o que eu procuro comunicar. Até porque o livro é a busca pela conservação de algo e eu já fiz livro com casca de ovo, para o material orgânico, aos poucos, deteriorar o livro. Minha intenção é com a narrativização do livro.
 
Você, como editor e artista independente, como se sentiu diante do episódio de censura na Bienal do Rio? 
O ridículo já é esperado, não me espanta. Mas ninguém vai dar um passo atrás, porque a gente vai enfrentar simplesmente fazendo o que acredita. Eu não vou recuar por causa de uma narrativa delirante construída nos últimos anos. Não acredito nem que resistência seja a melhor palavra, porque as pessoas resistem contra algo maior. O que está acontecendo é minúsculo diante do que a gente construiu.
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