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MÚSICA

'É para desanuviar', diz Gal Costa sobre a turnê 'A pele do futuro ao vivo'

Repertório celebra os mais de 50 anos de carreira com pitada moderna

Publicado em: 06/10/2019 11:27 | Atualizado em: 06/10/2019 11:32

Foto: Marcos Hermes/Divulgação.
“É para desanuviar.” É assim que Gal Costa explica ao Correio a escolha por um show mais dançante na turnê A pele do futuro, apresentação com que a artista tem rodado o país desde dezembro passado. A cantora sabe que o momento é conturbado e entende que essa é uma oportunidade de tirar o público desse cenário pesado, mesmo que por algumas horas. “De certa maneira é, sim (um contraponto), porque a gente vive um momento tão difícil. Não só no Brasil, mas no mundo. É um momento de intolerância, de raiva, de ódio, de governo péssimo e ditatorial. A censura está começando a se manifestar. Uma coisa horrorosa e perigosa. Então, acho que o público vai ao show um pouco para esquecer essas coisas difíceis”, afirma.

A apresentação estreou em dezembro de 2018, três meses após o lançamento de A pele do futuro, disco de inéditas de Gal Costa. O show foi idealizado e dirigido por Marcus Preto, que também participou do CD que dá nome à turnê. Mais do que uma série de apresentações sobre o álbum de 2018, A pele do futuro ao vivo é uma celebração aos mais de 50 anos de carreira da artista.

O repertório faz um passeio pela trajetória, com canções clássicas e até com um toque político, como Vaca profana (Caetano Veloso) e London, London (Caetano Veloso), unidas aos novos sucessos em arranjos de disco music, como Sublime (Dani Black) e Cuidando de longe (Marília Mendonça, Juliano Tchula, Junior Gomes e Vinicius Poeta). “Foi uma forma de celebrar. Claro que gravei um disco com um repertório inédito, mas o show, com certeza, seria a minha oportunidade de cantar o repertório passado e mostrar para essa juventude, que hoje me escuta, e também para o pessoal da minha geração. É a oportunidade que tenho de mostrar meu trabalho, que, neste momento, é muito prazeroso”, revela.

A ideia de transformar o show em CD duplo e DVD veio ainda na concepção da turnê. “Tinha sido pensado, assim como quase todos os projetos que faço”, conta. A apresentação escolhida para dar origem ao novo material, lançado no mês passado, foi na Casa Natural Musical, em São Paulo, entre 23 e 24 março. A captação teve direção da dupla Henrique Carvalhaes e Rafael Gomes, direção musical de Pupillo, direção-geral de Marcus Preto e captação de som e mixagem orquestradas por Duda Mello. “Alguns dos arranjos musicais das canções do passado não são muito diferentes da época, mas é que os músicos são outros. A atmosfera de show também leva a uma integridade entre as canções, cria uma conexão entre elas e toda uma nova maneira de apresentá-las. Claro, com a minha maneira de cantar. Com o tempo as coisas vão se modificando, isso é natural. Mas, com certeza, tem a minha essência”, define Gal Costa.

Outras gerações

Modernizar-se nunca foi um problema para a cantora, que completou 74 anos na semana passada. Pelo contrário, a artista gosta. É uma forma que a faz não sentir o envelhecimento. “Peso (da idade) sempre tem, mas estou bem. Estou feliz, disposta. Não fico pensando muito em idade. Sempre acho que estou mais nova que a minha idade biológica diz. Poderia viver até os 150 anos”, diz.

Essa constante mudança pela qual Gal Costa passa a aproxima das novas gerações, tanto do público quanto dos novos artistas. No disco passado, ela trabalhou com Dani Black, Silva (Palavras no corpo, composição em parceria com Omar Salomão), Tim Bernardes (Realmente lindo) e Marília Mendonça. Alguns nomes vieram por indicação de Marcus Preto, outros dela mesma. “O Silva tocou comigo quando cantei Lupicínio Rodrigues, e Marília Mendonça está aí na mídia. A ideia de cantar Marília Mendonça surgiu porque eu tinha muita vontade de fazer uma música disco music e imaginei uma canção dela no gênero. Achei que daria um bom caldo. As coisas vão surgindo, não existe uma ideia predeterminada. Gosto de trabalhar assim”, defende.

Mesmo que esteja com um olhar sempre à frente, a artista nunca esquece do passado. Em referência a música Mãe de todas as vozes, composição de Nando Reis, em que ela canta ser “filha de todas vozes que vieram antes e mãe de todas que virão depois”, Gal explica a árvore genealógica de sua emblemática voz. “Acho que ela é filha de João Gilberto. Para mim, ele foi o cantor do estilo musical que mais me transformou, vamos dizer assim”, afirma, completando o que ela já havia compartilhado na apresentação de A pele do futuro em Brasília, que ocorreu no dia em que João Gilberto morreu, em 6 de julho.

E completa: “Eu ouvia desde criança muito rádio. Ouvia todo mundo que cantava na minha infância, as grandes cantoras Ângela Maria e Dalva. Ouvia também as cantoras americanas, as divas do jazz. Frank Sinatra, Nat King Cole, Jackson do Pandeiro. Ouvia muita coisa misturada. Tudo isso, claro, tem uma influência no meu canto. Mas definitivamente no meu canto moderno foi João Gilberto. Então, acho que ela é filha de tudo isso que eu falei”. Sobre a maternidade da própria voz, ela evita citar nomes, só acrescenta: “É da mãe da nova geração de cantoras, acredito”.

Personalidade forte

Gal Costa é do tipo de artista que se posiciona. Quando começou a carreira nos anos 1960, ao lado de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia e Tom Zé, logo se firmou sem dificuldades, mesmo em um tempo em que as mulheres ainda lutavam por espaço na sociedade. Gal atribui isso ao próprio talento. “Olha, não foi difícil ser mulher (nesse período). Não fui assediada, não fui paquerada... Se fui, não percebi. Não tive nenhum problema nesse aspecto pelo fato de ser mulher, porque sempre tive talento e sempre confiei no meu taco, no meu destino.”

A cantora aproveita para dar um recado às mulheres: “Não sou feminista ativista, mas defendo as mulheres. Sou uma mulher que tem visibilidade, por isso, na verdade, me posiciono. E acho que o lugar das mulheres é acreditar no que elas fazem e ir em frente, sem se preocupar. A gente não tem que se preocupar, tem que ir fazendo, ir desbravando caminhos”.

Sobre o que prevê para o próprio futuro, ela considera se manter ativa por muito tempo ainda. “Meu trabalho está aí, está feito. Ainda há muito o que fazer. Ainda tenho gana de trabalhar, tenho prazer nisso”, avalia. Apesar de colher os frutos de A pele do futuro ao vivo, Gal não para. “Tenho algumas ideias (para um novo trabalho). Mas não costumo falar, porque quebra o encanto e a energia que você deposita na coisa que você quer”, admite.

A pele do futuro ao vivo
De Gal Costa. Biscoito Fino, 21 músicas. Preço médio: R$ 55,65 (DVD) e R$ 58,95 (CD duplo). Álbum disponível também nas plataformas digitais.





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