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'Existe uma falta de respeito dentro da comunidade LGBTQI+', diz Romero Ferro. Confira a entrevista

Publicado em: 14/09/2019 12:18 | Atualizado em: 16/10/2020 23:37

 (Foto: Lana Pinho/Divulgação)
Foto: Lana Pinho/Divulgação


O cantor pernambucano Romero Ferro apresentará o show do álbum Ferro, lançado no final de agosto, pela primeira vez no Recife neste sábado (14). Será durante o festival MECABrennand, que pelo segundo ano consecutivo retorna à Oficina Cerâmica Francisco Brennand, na Zona Oeste, com a proposta de fomentar o circuito alternativo nacional e local. A programação também contará com Tulipa Ruiz, Mombojó, Noporn, Shevchenko & Elloco e 9K. No time de DJs, Roger Weekes (Inglaterra) e Jay West (Argentina), além dos pernambucanos Iury Andrew, Libra e Patricktor4. 

Disponível nas plataformas de streaming, o álbum Ferro chega para consolidar uma fase que o cantor natural de Garanhuns, no Agreste, vinha vivendo desde o single Pra que conquistar (2018), um pop com híbrido entre música brega e new wave dos anos 1980. Seguiram as músicas Acabar a brincadeira e Corpo em brasa, parceria com a conterrânea Duda Beat.

Capa do álbum Ferro ( Foto: Divulgação)
Capa do álbum Ferro ( Foto: Divulgação)


O brega é "pop" desde sua gênese, na década de 1970, quando surgiu com versões regionais de ícones da Jovem Guarda, a exemplo do próprio Reginaldo Rossi. Atualmente, segue sendo o mais "pop" dos ritmos pernambucanos. Romero sabe disso. No novo álbum, o gênero vem como elemento sonoro para somar em um pop arrojado, algo também feito recentemente por Duda Beat e Pabllo Vittar.

Ferro estreou na música com Arsênico (2016), um álbum de pop rock cosmopolita que teve produção do carioca Diogo Strauz, coprodução do pernambucano Amaro Freitas e foi indicado ao Prêmio da Música Brasileira na categoria Melhor Cantor de Canção Popular. Agora, quem assumiu o front criativo ao lado do garanhuense foi Leo D. (tecladista do Mundo Livre S.A.). A direção artística foi do DJ e produtor Patricktor4.

Em trabalho de expansão para esse circuito pop/alternativo nacional, Romero Ferro já tem shows agendados em 2019 no Rio de Janeiro-RJ, em São Paulo-SP e Natal-RN. Também vai comandar o Trio da Metrópole, ao lado de Maria do Céu, na Parada da Diversidade de Pernambuco, realizada neste domingo na Avenida Boa Viagem, Zona Zul da capital. 



ENTREVISTA - Romero Ferro, cantor e compositor

 (Foto: Lana Pinho/Divulgação)
Foto: Lana Pinho/Divulgação


Como surgiu a ideia de misturar brega e new wave no álbum?
O brega vem como um dos elementos sonoros para somar ao meu pop. Eu não estou virando um cantor de brega. Não posso ser isso, pois não tenho local de fala. Mas como artista pernambucano de música pop eu sempre me identifiquei com o brega. Eu entendi que o brega era o pop pernambucano, com elementos regionais. Existem várias possibilidades de flertar e misturar. Eu sabia que em algum momento eu ia mergulhar nisso como um elemento poderoso. Estamos com essa tendência na música nacional. A Pabllo Vittar tem feito isso, a Duda Beat também. A ideia de misturar com o new wave da década de 1980, que eu amo, veio do Patricktor4. As experimentações nos levou a essa brincadeira de “tropical wave”.

Qual o maior diferencial de Ferro para Arsênico, seu primeiro álbum?
Acredito que seja a minha maturidade. Eu estou muito mais maduro, então é um outro Romero falando de sexualidade, dando posicionamentos políticos. Isso tudo de forma muito tranquila. O Ferro traz um Romero honesto e despretensioso com questões que são abordadas como tabus. É um trabalho independente. Sou do interior, sou homossexual. E partindo para a questão dos elementos sonoros, o Arsênico tem uma vibe bem mais pop rock e orgânica. O Ferro é muito mais sintético. Gravamos a maior parte na casa do Leo, aqui no Recife.

Você vai ver é uma regravação de Zezé di Camargo e Luciano. E Verdadeiro amor soa muito familiar, mesmo sendo inédita. 
Eu escrevi Verdadeiro amor em cima de boleros, peguei muito desse universo, então talvez por isso soe familiar. Inicialmente iríamos regravar um brega do Reginaldo Rossi, mas guardamos para um outro momento. Pegamos Você vai ver e tiramos a estética sertaneja, a deixando mais próxima de um bolero também. Embora Zezé tenha votado em Bolsonaro e tudo mais, quando eu era criança olhava uma capa de disco da dupla e ele estava estava sem camisa. Minha mãe perguntava: por que você escuta tanto esse disco? Eu dizia que era para aprender a música. E essa música é um hit, né? (risos).

 (Foto: Lana Pinho/Divulgação)
Foto: Lana Pinho/Divulgação


E a parceira com o Otto, como foi?
Eu nunca achei que iríamos fazer algo juntos, pois temos públicos distintos. Eu precisava de algum artista visceral e pensei nele. Esperava um ‘não’, porque não nos conhecíamos. Mas pelo o contrário, ele pediu a música por WhatsApp. Depois de 10 minutos, disse: quando gravamos? Eu morri. A letra é sobre um triângulo amoroso em que eu eu era o “outro”. Eu cantando isso tem uma conotação, pois sou homossexual. O Otto cantando tem outra. Então ficou uma coisa meio confusa. Isso é massa. Essa é a minha faixa favorita do álbum no momento e gostaria muito de gravar um clipe dela.

O Ferro vem com a ambição de expandir seu trabalho nacionalmente. Como tem sido o feedback do público?
Estou recebendo muitas mensagens do dia inteiro. Estamos em um processo expansivo pelo país desde Pra te conquistar, que bateu meio milhão de execuções no Spotify. Sinto uma crescente de fãs desde esse lançamento. Fizemos participação no Encontro da Fátima Bernardes. Corpo em brasa, com Duda Beat, é o clipe com melhor desempenho. Das músicas que ainda não são singles, a com mais repercussão é Tolerância zero, que acabou ganhando um cunho político. Essa receptividade traz um gás para seguir. Quero que as coisas caminhem de forma positiva, mas sei que é um lance de “passo a passo” mesmo. Uma coisa puxa a outra. Quero solidificar uma música boa sem estresse. Ter um público que se comunica comigo.

A fama, sobretudo em tempos de redes sociais, também vem com um lado negativo. Como você está lidando com a questão dos haters?
Vivemos em um momento tecnológico em que as pessoas se acham no direito de dar opinião sobre tudo e todos. No primeiro momento, quando apareceu a primeira possibilidade do que seria um hater, logicamente eu fiquei chateado. Mas a maior parte dos ataques são infundados. A pessoa nem me conhece e me chama de privilegiado, mas não sabe dos meus perrengues. Nós da classe LGBTQI+ cobramos respeito, nosso lugar na sociedade. Mas existe uma falta de respeito dentro da comunidade LGBTQI . Ninguém é obrigado a gostar do trabalho de ninguém. Não existem motivos para agressões. O que existem são pessoas hipócritas que militam contra Bolsonaro, saem na Parada da Diversidade pedindo por direitos. Mas aí vão no Twitter me atacam, ou atacam o Johnny Hooker, ou a Gaby Amarantos... O que eles estão fazendo? Estudos apontam que os haters aparecem quando o trabalho está repercutindo. Então isso é normal, tenho aprendido muito e evito entrar nessas tretas de internet, sobretudo no Twitter que é a rede social mais grosseira nesse sentido. É muito sobre se colocar no lugar de fala de alguém.
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