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Milton Nascimento apresenta no Recife um dos trabalhos mais geniais da música brasileira

Publicado em: 23/08/2019 09:43 | Atualizado em: 23/08/2019 13:06

Foto: João Couto/Divulgação

O registro despretensioso de dois garotos sentados na beira da estrada, em meio a uma paisagem árida da região Serrana do Rio de Janeiro, se tornou símbolo de um dos trabalhos mais ambiciosos da música brasileira. A fotografia é capa do Clube da Esquina, disco do grupo homônimo liderado pelos cantores e compositores Milton Nascimento e Lô Borges, lançado em 1972. A identidade das crianças em frente àquela cerca de arame farpado foi descoberta somente em 2012 pelo jornal Estado de Minas. Tonho e Cacau, hoje em dia com mais de 50 anos, foram fotografados pelo pernambucano Cafi, falecido em janeiro deste ano.

O disco celebrou 45 anos em 2017, e, no ano seguinte, um novo Clube da Esquina 2, do segundo encontro do grupo, completou 40 anos. Para registrar as datas, Milton Nascimento decidiu sair em turnê com os discos juntos pela primeira vez. O novo projeto resgata os grandes clássicos dos álbuns, com maior foco no primeiro, trazendo, inclusive, músicas que o público nunca escutou ao vivo.

Foto: Reprodução
"Eu nunca tinha pensando em fazer algo que juntasse os dois discos do Clube, mas agora me veio um sentimento de que era hora de fazer isso. Quero trazer uma ideia que possa unir as pessoas e tenho certeza de que este será o meu projeto mais especial em todos esses anos”, revela Milton. Com ingressos esgotados, a apresentação no Recife será neste sábado, às 21h, no Teatro Guararapes.

Entre as canções mais aguardadas do repertório, estão: Maria, Maria, Um Girassol da Cor de Seu Cabelo, Paisagem da Janela e Clube da Esquina nº 2. No palco, Milton será acompanhado por Wilson Lopes (guitarra e violão), Beto Lopes (guitarra e violão), Alexandre Ito (baixo), Ademir Fox (piano), Widor Santiago (metais), Lincoln Cheib (bateria), Zé Ibarra (vocal) e Ronaldo Silva (percussão). A direção artística é de Augusto Nascimento, e a direção musical de Wilson Lopes. 

Na esquina de casa, cantando e tocando violão no cenário rural de Minas Gerais, Milton Nascimento e os irmãos Marilton, Márcio e Lô Borges construíram uma linguagem musical própria ainda na década de 1960. Influenciados pela cultura do rock dos Beatles e as inovações da Bossa Nova que invadiam o país no período, os quatro fundaram o Clube da Esquina, adicionando, ainda, elementos da música folclórica, erudita, ritmos do interior de Minas e o jazz.

A amizade é o fio condutor presente na poesia das composições, com ar inovador, embora despretensioso. "A gente nunca pensou muito como isso influenciaria a nossa carreira musical ou o cenário da música brasileira porque desde o começo a gente só queria saber de duas coisas: a nossa amizade e a nossa música. A proposta de tudo era ser livre, nada além disso. O resto era consequência”, conta Milton em entrevista ao Viver.

Com letras que passeiam por um cenário rural e urbano, tradicional e moderno, os discos que contaram também com a participação de Beto Guedes, surgiram no contexto da ditadura militar, em um período de intenso acirramento político, repressão e censura. Em um momento de acirramento político como o vivido atualmente, revisitar o álbum é voltar também um cenário já conhecido.

Foto: João Couto/Divulgação
"Olha, tá tudo muito esquisito viu… Há um diálogo entre o lançamento e os dias atuais. Está tudo interligado, e é por isso mesmo que decidimos fazer esse show celebrando os dois discos. E o diálogo vem através dessa união", explica Bituca. A história do grupo inspirou o livro Clube da Esquina: Milton Nascimento e Lô Borges, escrito pelo jornalista e antropólogo Paulo Thiago de Mello. Na publicação, o autor destaca a experiência musical de Milton e a jovialidade de Lô. E atribui a essa balança, a consagração do Clube.

De acordo com ele, os 18 anos de Lô quase impediram as gravadoras de publicar o disco, mas o histórico de Milton construiu um cenário mais sólido. Para Bituca, a presença de Lô é fundamental.“Sem Lô Borges não existiria Clube da Esquina, e minha amizade com ele foi o começo de tudo isso que está aí até hoje. E a gente não para de produzir nunca, nossa relação é eterna”, conta Milton. Ao longo dos mais de 50 anos de carreira do artista, Milton ganhou fama nacional quando se classificou em segundo lugar do Festival Internacional da Canção, em 1968 e reúne cinco estatuetas do Grammy.

Fortemente ligado às comunidades indígenas, o artista foi agraciado também com diversos condecorações sociais como Rain Forest, considerado o Nobel da Ecologia, e os títulos de doutor honoris causa, concedida pela Universidade Federal de Minas Gerais e pela Berklee College of Music, em Boston, nos Estados Unidos. Da nação guarani kaiowá, Milton Nascimento recebeu o nome de Ava Nhey Pyru Yvy Renhoi, ou Semente da Terra, em uma cerimônia realizada há oito anos.

SERVIÇO
Milton Nascimento na turnê Clube da Esquina
Quando: neste sábado (24), às 21h
Onde: Teatro Guararapes (Centro de Convenções de Pernambuco) Informações: (81) 3182-8020
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