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'Eu sou o discurso, então não preciso fazer um', diz Ney Matogrosso. Confira a entrevista

Publicado em: 30/08/2019 10:00

Foto: Bruna Costa/DP
Poucos artistas conseguem subir no palco e, mesmo depois de tantos anos de carreira, ostentar tanta presença, força e beleza em sua performance. Ney Matogrosso é certamente um integrante do grupo seleto capaz de preservar sua mística aura de lenda viva da música. Após cinco anos com a turnê de seu último álbum, Atento aos sinais (2013), o cantor traz seu novo espetáculo, Bloco na rua, pela primeira vez a Pernambuco. No show, estão presentes grandes canções autorais e interpretações, além dos figurinos e extravagâncias que já são marcas registradas desde seus anos de Secos & Molhados. A apresentação neste sábado (30), às 21h, no Teatro Guararapes, em Olinda. 

Ao apagar das luzes, Ney sobe no palco com o rosto coberto e entoa a canção de Sérgio Sampaio que dá título a turnê: “Eu quero é botar meu bloco na rua”. Em coletiva na tarde da última quarta-feira (28), no Recife, o cantor explicou de onde surgiu a ideia para essa faixa. “Eu sempre quis cantar essa música. Percebi que agora é hora. A ideia vem de movimento, algo se mexendo”. Bloco na rua não é uma turnê usual para o músico, que geralmente trabalha com shows baseados em inéditas. Mas Ney explica que isso, para ele, não é um problema, já que suas leituras dessas obras são o mote.

Assim como em outros projetos, o sul-mato-grossense segue a metodologia de começar com uma turnê ao invés de disco. Segundo ele, as canções de Bloco na rua já estão gravadas em CD e DVD, que estão sendo mixados e sem previsão de lançamento. “O repertório é compatível com tudo que a gente vem vivendo”, ele conta, gesticulando elegantemente. O espetáculo se divide entre interpretações de clássicos da música brasileira, canções de sua autoria e uma faixa inédita. Entre as interpretações estão A maçã, de Raul Seixas, Álcool (Bolero filosófico), de DJ Dolores, da trilha sonora do longa pernambucano Tatuagem, e Como 2 e 2, de Caetano Veloso. Entre as canções já gravadas por Ney estão O beco, do final dos anos 80, e Mulher barriguda e Sangue latino, ambas do clássico álbum dos Secos & Molhados de 1973.

Foto: Bruna Costa/DP
Os figurinos de Ney Matogrosso, que sempre se integram ao conceito do show, foram feitos pelo estilista Lino Villaventura. “Foi a primeira vez que eu não opinei. Porque eu gosto de estar junto, eu gosto de falar e opinar. Mas o Lino não queria que eu opinasse. Eu disse que tudo bem, mas se eu não gostar, eu não vou usar, porque não sou obrigado a usar algo que eu não me sinta bem”, diz. Um dos principais adereços é a máscara que cobre o rosto de Ney quando ele sobe no palco. A ideia de entrar com o rosto coberto, “parecendo uma criatura de sabe-se lá onde”, foi o que chamou a atenção do figurino para o cantor.

Outro ponto forte da mise-en-scène do espetáculo são as luzes, assinadas por Juarez Farinon, que já trabalhou na direção de luzes para shows de artistas como Cazuza e Chico Buarque. A direção do cenário fica por conta de Luiz Stein. A banda, que já acompanha o cantor há cinco anos, é formada por Sacha Amback (direção musical e teclado), Marcos Suzano e Felipe Roseno (percussão), Dunga (baixo), Mauricio Negão (guitarra), Aquiles Moraes (trompete) e Everson Moraes (trombone). 

POLÍTICA E MEMÓRIAS
Da complicada relação com seu pai, o militar Antônio Matogrosso Pereira, somada à admiração por ídolos como James Dean e Elvis Presley, o cantor sempre teve seu posicionamento associado à liberdade, rebeldia e contestação. Apesar de suas performances serem entrecortadas por letras e pelas potencialidades políticas do corpo, Ney Matogrosso sempre se filiou à negação completa de rótulos, evitando filiações mais discursivas. "Eu não faço discurso. Sou muito mais sutil, sabe? Não me interessa, não sou de discurso. Mas isso não me impede de cantar o que eu tenho vontade”, explica. "Eu sou o discurso, então não preciso fazer um. As pessoas falam assim: 'Ah, ele não pega bandeira'. Eu sou a bandeira'."

Foto: Bruna Costa/DP
Também por conta do trabalho de seu pai, o artista já morou com a família em várias cidades do Brasil, inclusive no Recife. "Tenho memória da rua em que eu morei, ela se chamava Rua do Jenipapeiro. Nem sei se existe mais. Era uma ladeira que tinha jenipapo nela inteira. Era uma ‘ladeirona’, bem alta mesmo, e a nossa casa ficava no topo. Eu lembro disso tudo por causa do cheiro", conta, em tom nostálgico.

Hoje, no auge de seus 78 anos, cheio de histórias e de uma vitalidade admirável, Ney Matogrosso conta que se cuida, come pouco e faz exercícios físicos diariamente para manter um tônus muscular. Não é só o físico que suporta o ímpeto criativo do artista. “Acho que cabeça me leva. Eu inventei (o show)! Como eu não vou realizar? Nunca fiz show leve. Tudo sempre exigiu muito de mim fisicamente. Não é que agora exige mais, sempre exigiu”, afirma. Ele diz que sabe que em algum momento da vida os shows serão uma dificuldade. Fala que não se vê perto de estar “vencido” pelas cobranças naturais do tempo: “Enquanto eu puder, sei que farei”, pontua, como quem diz que se portará diante da idade como sempre se portou diante de todas as violências da vida: munido com toda sua beleza e força.

SERVIÇO
Show Bloco na rua, de Ney Matogrosso
Quando: neste sábado, às 20h
Onde: Teatro Guararapes (Centro de Convenções, Olinda)
Quanto: Balcão - R$ 360 (outros setores estão esgotados)
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