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Música

O legado musical de Andre Matos ressoa em Pernambuco

Publicado em: 09/07/2019 10:01

Foto: Terra Prima e Dune Hill/Divulgação
O metal sempre chamou a atenção pelas características sui generis no que diz respeito à estética musical, traços identitários do público e fidelidade do nicho de consumidores. Mas também se destaca pela riqueza de suas vertentes, com vários subgêneros e fusões. O metal melódico, por exemplo, conta com influências da música erudita e vocais mais agudos que, juntos, criam uma atmosfera grandiosa, quase teatral. De acordo com o músico e antropólogo Sam Dunn, esse formato surgiu com Ronnie James Dio, que trazia referências medievais e renascentistas nas letras. 

Mas grande parte dos brasileiros sequer ouviram falar dele. Abaixo da linha do Equador, o grande difusor foi Andre Matos, fundador das bandas Angra, Shaman e Viper. Absorvendo os traços do metal melódico da forma mais competente possível, a imagem imponente de Andre conquistou jovens metaleiros em todo o Brasil na década de 1990. No Recife, eram jovens que formariam um circuito composto por bandas como Silent Moon, Terra Prima, Dune Hill e Final Age.

Hoje, são adultos que recordam de seus primeiros shows do Angra como grandes eventos. O falecimento do artista após ataque fulminante, que completou um mês nesta segunda-feira (8), veio como um golpe abrupto para os admiradores do ritmo e personagens que ajudam a construir a cena. Um abaixo-assinado na internet, com quase 50 mil inscritos, pede para que a data de 8 de junho seja considerada o Dia do Metal no calendário nacional.

"O metal melódico trabalha muito com vocal meio lírico e, nesse sentido, o Andre foi único. Deve continuar sendo lembrado como o melhor", Dune Hill gravou com Matos a música The mirror, do disco Song of Seikilos diz Daniel Pinho, vocalista da banda Terra Prima. "A morte foi um baque muito grande, porque o Shaman tinha feito show no Recife há pouco tempo. Uma semana antes, ele se apresentou em São Paulo", continua. Também composta por Otávio Mazer (guitarra), Diego Véras (guitarra), Gabriel Carvalho (baixo) e Tiago Guima (bateria), a Terra Prima pode ser considerada, no contexto pernambucano, um fruto direto do metal melódico das bandas fundadas por Matos. Nos anos 2000, o grupo chamou atenção pela proposta de unir o melódico com referências da música brasileira, incluindo maracatu e baião. 

O primeiro álbum, And life begins... (2010), contou com a participação de músicos da Nação Zumbi e da Turma da Macaxeira, além de Rafael Bittencourt (guitarrista do Angra). No próximo dia 31, a banda completa 15 anos. Carrega no currículo uma abertura para o Iron Maiden, três edições de Abril pro Rock, uma mini-tour no Nordeste com o Angra e uma tour na Europa, fazendo 11 shows em sete países. Em 2016, lançaram o Hellcife live, um álbum ao vivo gravado no APR.

Foto: Terra Prima/Divulgação
Atualmente, o vocalista Daniel Pinho ainda se prepara para lançar seu primeiro álbum solo, Pirate ship. Continuará fazendo referência a Matos pelo teor erudito, mas também delineando a identidade própria do intérprete. "Será um metal opera, com participação de vários cantores, como as italianas Alessia Scolletti e Michele Guaitoli, da banda Temperance, e Rafael Furtado, cantor recifense que participou do The voice, da Globo", adianta, durante entrevista que concedeu por telefone após desembarcar em Manaus. É que no último sábado ele foi o convidado de destaque em um show de tributo a Matos na capital amazonense, resgatando sucessos das três bandas que ele fez parte. Os grupos Make Believe e Ragnarock completaram a programação.

Do melódico ao heavy metal
No dia 20 deste mês, um evento de tributo será realizado na capital pernambucana, no Burburinho (Rua Vigário Tenório, 185, Bairro do Recife), reunindo Daniel Pinho, Phyrgia, de uma nova geração do metal melódico, e Dune Hill. Essa última, também pernambucana, recentemente lançou seu segundo disco, intitulado Song of Seikilos. O álbum conta com uma participação de Andre Matos na faixa The mirror. Ao contrário da Terra Prima, a banda é mais ligada ao heavy metal tradicional, mas já realizou algumas experimentações estéticas e não nega influência de Angra ou Shaman.

Foto: Dune Hill/Divulgação
“Musicalmente, temos algumas faixas mais leves e a própria música que intitula o álbum é focada na harmonia de vozes, ao invés do viés pesado. Mas eu diria que nossa semelhança com o melódico fica na parte mais conceitual, pois temáticas fantásticas são comuns nessa vertente”, diz o guitarrista Felipe Calado, integrante do grupo ao lado de Leonardo Trevas (vocal), André Lego (guitarra), Pedro Maia (baixo) e Otto Notaro (bateria). "Isso parte muito do nosso vocalista, que sempre foi entusiasta de estudar línguas diferentes, tendo acesso a diferentes culturas e histórias".

Durante a produção de Song of seikilos, Leonardo Trevas descobriu que a música mais antiga que se tem registro, composta na Grécia Antiga, conta a história de um casal de meninas chamadas Bella e Alex, que buscam para viver seu amor em meio às adversidades do mundo. Tendo esse gancho temático histórico, o álbum consegue discutir temas atuais como o preconceito, a homofobia, uso de drogas, com temáticas fantasiosas como a mitologia grega. O projeto contou com colaborações do guitarrista Antônio Araújo (Korzus e One Arm Away) - que também produziu o disco -, da vocalista Deborah Alencar e dos guitarristas Nenel Lucena (Evocati) e Felipe Wolfenson (Papaninfa).


A banda conseguiu chegar até Andre Matos sob a articulação do produtor musical Antônio Araújo. Eles enviaram a música The mirror quase finalizada para o paulista, que aprovou e gravou seus versos em um estúdio em São Paulo. “Escolhemos essa especificamente por não ser tão pesada e não ter uma estrutura de composição tão tradicional. O ideal seria que ele achasse diferente”, diz Felipe. Em junho, antes de Andre falecer, os membros da Dune Hill estavam em contato com ele para tentar gravar um videoclipe.

"Foi a morte de um ídolo que mais sentimos, pois quando os artistas estão mais velhos, é de se esperar que isso ocorra. Mas, perder Andre Matos no momento que perdemos, foi inacreditável. Nunca tive contato direto com ele. Seria uma realização conhecer o vocalista dos shows que eu frequentava quando tinha 14 anos e segue sendo uma grande influência para todos nós que trabalhamos com o metal, sendo ele melódico ou não", finaliza Felipe.
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