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Cinema

Com 44 filmes, Festival de Cinema Universitário intensifica tom político em nova edição

Publicado em: 08/07/2019 12:28 | Atualizado em: 08/07/2019 14:59

Neste ano, foram submetidos cerca de 700 filmes, sendo 400 nacionais e 300 internacionais. Foto: Tiago Calazans/Divulgação
Produções amadurecidas e olhares sensíveis dão o tom da quarta edição do MOV - Festival Internacional de Cinema Universitário de Pernambuco, que começa nesta segunda-feira (8) e segue até domingo (14), no Cinema São Luiz, no Centro do Recife. Idealizado em 2014 pelos então estudantes da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Amanda Beça, Thais Vidal, Vinícius Gouveia e Txai Ferraz, o evento foi criado com o intuito de dar visibilidade à produção cinematográfica de universitários e possibilitar o diálogo entre os estudantes de diferentes países.

Durante os sete dias, o MOV recebe mostras competitivas de curtas-metragens nacionais e internacionais, sessões especiais de longas, oficinas formativas e rodas de discussão. Os ingressos terão valor único de R$ 5.

Neste ano, foram submetidos cerca de 700 filmes, sendo 400 nacionais e 300 internacionais. A curadoria selecionou produções inseridas no contexto político de defesa de liberdades individuais. “Nós, idealizadores, temos um envolvimento sensível com o que está acontecendo no país, toda essa 'balbúrdia'. Então, esse ano a gente quis fazer um MOV que tivesse um posicionamento. Diante dos cortes de gastos na educação, tememos uma queda nas produções e também a falta de investimento nas próximas edições”, afirma Amanda Beça.

Para ela, a quarta edição carrega um amadurecimento muito grande nas produções. “Tivemos que tomar decisões difíceis e filmes bons ficaram de fora. Percebemos narrativas muito potentes, que claramente poderiam ir para festivais de grande circulação. Acredito que isso é um retrato das políticas de ações afirmativas que estão em vigor nas universidades públicas.”

Cena do documentário Onde Começa um Rio, que versa sobre as ocupações universitárias de 2016 contra a PEC do Teto. Foto: Reprodução
A implementação das cotas promoveu uma maior versatilidade nos roteiros, abrangendo temáticas de gênero, identidade, raça e sexualidade, sem que fosse preciso trazer um caráter panfletário, avalia Beça. A programação do festival conta com dois longas e 42 curtas, assinados por realizadores brasileiros e de outros 13 países, como Filipinas, Palestina e Índia.

O documentário Onde começa um rio, de Julia Karam, Maiara Mascarenhas, Maria e Cardozo e Pedro Severien, abre a programação nesta segunda-feira, às 19h. O longa versa sobre as ocupações universitárias de 2016 contra a PEC do Teto. “Com os cortes às universidades públicas realizados no governo de Bolsonaro, é bom momento de rememorar as ocupações estudantis, um acontecimento político em defesa da educação pública, além de afirmar a produção de conhecimento dos estudantes que continuam lutando pela educação pública igualitária”, diz a nota assinada pelos diretores.

O cartaz oficial do festival dialoga com a temática, trazendo uma barricada de cadeiras em um corredor de um edifício estudantil, remetendo às ocupações. O filme terá exibição em libras e LSE. A iniciativa acessível também contempla o bloco de curtas-metragens nacionais Flanar, que será exibido na sexta, às 20h30.

Cena do curta Frervo, de Thiago Santos e Libra. Foto: Reprodução
Outro destaque da programação é o curta documentário Frervo, dos recifenses Libra e Thiago Santos, que estreia amanhã, dentro da mostra competitiva, abordando o movimento de resistência do público LGBT na produção de festas independentes na cidade. “O MOV é um festival necessário dentro de um cenário de desmonte na educação. É uma junção de movimentos de resistência que sai do seio universitário e amplia as discussões para ameaças que existem às políticas públicas no Brasil”, pontua Thiago. O filme acompanha a produção, a divulgação e a realização de duas festas de música de eletrônica LGBT: Extasia e Hypnos.

A ideia de fazer um filme sobre esses espaços surgiu em 2017 como um projeto para a realização do Trabalho de Conclusão de Curso de Thiago. Para imergir no tema, ele convidou a trans Libra, que era uma das produtoras das festas na época. Juntos, escreveram o roteiro composto em 80% por pessoas trans. “É muito significativo para a gente falar das resistências personificadas por pessoas trans, que não necessariamente adentram as universidades, mas é uma conquista fazer com que estes corpos ocupem as telas do cinema”, explica Thiago.

“É um filme sobre movimento, contado por nós mesmas, pessoas trans, sem protagonismos, e apresenta muitas de nós no começo de transição hormonal, tensionamentos familiares, escolha de nome”, revela Libra. A narrativa mostra como a música eletrônica, cenário dominado por uma elite branca heterossexual se tornou, por acaso, um cenário libertário.

"A gente não conhecia a cena eletrônica, mas durante nossa construção e identificação, o ritmo esteve presente. Nos abrangeu a partir da experiência corporal, das nossas performances. E, para nos sentirmos à vontade, começamos a criar espaços seguros através da idealizar das nossas próprias festas", conclui. Um grupo formado por professores, acadêmicos, estudantes de cinema e cinéfilos, são eles André Antonio, Mayara Santana, Mariana Souza, Júlia Catherine e Sabrina Tenório, assinam a curadoria de curtas.

Dentro da programação, estão previstas ainda seis oficinas sobre assistência de direção, conflitos políticos em documentários, cinema e educação, imagens queer, direção de arte e afro-ficção. Na sexta, a festa MOV Your Body agita a Galeria Arvoredo, no Derby, com ingressos a R$ 15 (meia) e R$ 20 + 1 kg de alimento não perecível (social). 
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