O pernambucano Elcio Lima, de 29 anos, vive na Alemanha desde 2007 (Foto: Bruna Costa/DP)
O pernambucano Elcio Lima, de 29 anos, vive na Alemanha desde 2007. Trabalha no ramo da hotelaria em Frankfurt, a quinta maior cidade do país. Na noite da segunda-feira, voltou ao Recife movido pelo show de Sandy e Junior. “É uma loucura que fiz. Foram 14 horas de voo, além dos valores de ingressos e passagens. Mas tenho que assistir o show do Recife, pois, além de ser a estreia, quero acompanhar esse momento na minha terra, com meus amigos de fã-clube da época”, conta.
Elcio começou a acompanhar a dupla aos 7 anos, após ouvir a coletânea Millennium (1998). Como um bom fã de ídolos teens, passou a ser colecionador de discos, fitas VHS e pôsteres. Na década de 2000, fundou um fã-clube chamado Só Tem Sandy e Junior, que tinha cerca de 500 membros, de acordo com ele. “Os integrantes tinham que pagar uma taxa, participar de encontros e acompanhar alguns shows. Eu fui para vários, em várias regiões”. Por ser presidente do grupo, Elcio foi personagem de uma reportagem do Diario sobre a despedida da dupla, publicada em 24 de agosto de 2007.
Elcio Lima e Rodrigo Henrique, em foto para reportagem do Diario de Pernambuco em 2007 (Foto: Juliana Leitao/DP)
“A ficha ainda não caiu. Está dando até nó na garganta só de pensar no show”, afirma. “Não posso dizer que foi Sandy e Junior que me levaram à Europa, mas eles ajudaram. Foi através da dupla que conheci o amigo que me ajudou a chegar até lá. Ele também era muito fã e vice-presidente do clube. Para mim, eles significam muito. E, com essa volta, estão mexendo com a vida de todo mundo que foi fã ou admirador.”
NOSTALGIA
Mas, afinal, o que explicaria a êxtase causada pela turnê de retorno? O ramo do marketing atualmente estuda uma tendência de comportamento e consumo chamada de “newstalgia”. Diz respeito a fenômenos culturais ocorridos antes do “boom” digital e que mexem muito com gerações específicas, tendo força nas mídias digitais. A pesquisadora e professora da Unisinos Adriana Amaral, membro da Rede de Pesquisa em Estudo de Fãs, explica que esse furor é intrinsecamente ligado ao fator nostálgico.
Coleção de Carla Tosta, que viralizou nas redes neste ano (Foto: Arquivo Pessoal)
“A cultura pop opera em um paralelo com a nostalgia o tempo todo, pois é voltada aos jovens das épocas. Cada geração tem um ídolo. Há o envelhecimento dessas pessoas e, junto com isso, um acesso econômico ao consumo que não havia antes. Eles estão trabalhando, não dependem dos pais e podem comprar os shows e produtos”, explica Adriana, que é pós-doutora pela University of Surrey, no Reino Unido. “Essa nostalgia opera sendo alvo subjetivo, relacionado à identidade, e tem um lado até conservador, pois pessoas querem ver as mesmas coisa que elas já viam, sem novidades.”
Além disso, as redes sociais acabam facilitando o acesso a clipes, álbuns, shows. Novas gerações conhecem, e a demanda por shows surge. “Esse apelo nostálgico está em alta no entretenimento digital em geral, basta ver produções como Stranger things, da Netflix. Elas evocam um tempo imaginativo, que não é real. Alguns pesquisadores dizem que os ciclos nostálgicos têm uma duração de 20 anos para ocorrer. Podemos notar tendências dos anos 1990 retornando hoje, principalmente na moda dos jovens millennials”, finaliza.