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Artes plásticas

Destaque no cenário mundial, Adriana Varejão faz primeira exposição individual no Recife

Publicado em: 28/06/2019 11:03 | Atualizado em: 18/07/2020 00:10

Adriana Varejão ao lado da obra Pele Tatuada à Moda de Azulejaria (Foto: Bruna Costa/DP)
Adriana Varejão ao lado da obra Pele Tatuada à Moda de Azulejaria (Foto: Bruna Costa/DP)


A artista plástica contemporânea Adriana Varejão começava a despontar no circuito mundial quando veio ao Recife pela primeira vez, no início dos anos 1990, em busca de conhecimento e inspiração sobre a arte barroca. Ambientes como o altar da Basílica de Nossa Senhora do Carmo e a azulejaria do Convento de Santo Antônio foram suprassumos para a artista carioca, já que suas obras ficaram conhecidas por combinar elementos visuais ligados à colonização brasileira com intervenções violentas e agressivas. Sua primeira exposição na capital pernambucana será inaugurada nesta sexta-feira (28), às 19h, mais de duas décadas anos após a primeira visita.

Montada em dois andares do Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (Mamam), no Centro, Adriana Varejão - Por uma retórica canibal reúne 25 obras produzidas entre 1992 e 2018, formando um conjunto representativo de sua carreira, marcada por participações no Museum of Modern Art de Nova York e pela conquista, em 2011, da Ordem do Mérito Cultural pelo Ministério da Cultura do Brasil. A curadoria é de Luisa Duarte, que integrou o conselho do Museu de Arte Moderna de São Paulo entre 2009 e 2012. Recife é a segunda cidade a receber o projeto itinerante, que já passou por Salvador, outra fonte abundante de arte barroca.

“Meu conhecimento sobre barroco veio dessas duas cidades. Então, pensar que eu nunca havia feito uma exposição individual nesses lugares, era algo totalmente sem sentido”, admite Adriana. “Existe uma dificuldade enorme de viajar com peças grandes em um país de dimensões continentais. Além disso, muitas peças já estavam com colecionadores e foi difícil convencê-los, pois estamos falando de obras muito caras”, argumenta Luisa Duarte.

O título da mostra tenta resumir esse paradoxo pós-colonial, o traço temático mais acentuado na carreira de Varejão. A “retórica” diz respeito a uma estratégia da linguagem barroca enquanto persuasão, sobretudo para temáticas religiosas. Já a “canibal” se refere à prática da antropofagia. “Os estudos pós-coloniais ainda não tinham ganhado destaque na arte contemporânea quando a Adriana passou a pautar esse tema nas suas obras. Essa visão é interessante, pois desperta um olhar crítico à civilização europeia, dando vida a um barroco selvagem, em carne viva”, diz Luisa, sobre o processo da curadoria.

Proposta para uma Catequese Parte I - Diptico Morte e Esquartejamento (1993) (Foto: Eduardo Ortega/Divulgação)
Proposta para uma Catequese Parte I - Diptico Morte e Esquartejamento (1993) (Foto: Eduardo Ortega/Divulgação)


Esse aspecto do barroco selvagem é destaque, por exemplo, nos quadros Proposta para uma catequese I e II (ambos de 1993), que exibem rituais antropofágicos indígenas em azulejos tipicamente europeus. “A história é escrita a partir de um ponto de vista, e proponho uma troca desse mecanismo com uma mudança de perspectiva, pois acredito que o passado não é algo fixo ou fechado”, afirma Adriana. Esse teor mais ensanguentado e crítico está presente em uma das áreas da exposição, que pode ser dividida em três partes temáticas.

Ainda nessa primeira, é possível encontrar o um mapa-mundo de Colombo com um corte profundo no meio (Mapa de lobo homem II, 2004), uma parede de azulejos com incisões encarniçadas (2000). Também existem algumas composições tridimensionais, inspiradas no italiano Lúcio Fontana, como as Ruínas de Charque (2001), que Adriana criou inspirada em pedaços de carne que encontrou na Feira de Caruaru, no Agreste pernambucano.

Adriana Varejão com suas ruínas de charque (Foto: Bruna Costa/DP)
Adriana Varejão com suas ruínas de charque (Foto: Bruna Costa/DP)


No segundo andar, um outro conjunto de obras apresenta o lado mais "geométrico" de Varejão, formado por vários azulejos coloridos - ela revelou que um dos quadros pertence à cantora Marisa Monte, que é uma “ótima colecionadora". "Para fazer esses azulejos, lido com um banco de imagens enorme, com quase 3 mil fotos. Sempre procuro inspirações nessa fonte, e a leva mais recente tem uma geometria mais clara", diz Adriana.

A terceira e última parte agrega uma coleção de pratos gigantes criados com fibra de vidro, preenchidos com estruturas tridimensionais de resina e pintados a óleo. Essas obras singulares foram inspiradas no português Bordalo Pinheiro, excêntrico intelectual e ceramista do século 19. "Ele teve uma produção de cerâmica muito hedonista, então fiquei encantada e quis fazer algo semelhante. As imagens pintadas no centro dos pratos trazem elementos do universo marinho, como uma viagem meio paralela à minha obra, exceto um que traz um ritual antropofágico e padronagens indígenas", continua.

Artista ao lado de obra mais "geométrica". Peça pertence à cantora Marisa Monte (Foto: Bruna Costa/DP)
Artista ao lado de obra mais "geométrica". Peça pertence à cantora Marisa Monte (Foto: Bruna Costa/DP)


Além das sessões citadas, Por uma retórica canibal ainda conta com a instalação em vídeo Transbarroco, gravada na Bahia, Rio de Janeiro e Minas Gerais, com loopings de 360 graus pelos ambientes filmados. Ela finaliza falando que a saída do eixo Rio-São Paulo foi em boa hora: "Ao adentrar no sistema institucional dos aparelhos culturais, vemos eles sendo esvaziados. Diante disso, a maior resistência que um artista pode fazer é se tornar ativo. E principalmente refletindo sobre um passado que nos falta em um país que repete erros".

SERVIÇO
Adriana Varejão - Por uma retórica canibal
Onde: Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (Rua da Aurora, 265, Boa Vista). 
Abertura: Nesta sexta-feira (28), das 19h às 22h
Visitação: até 8 de setembro (terça a sexta, das 12 às 18h, sábados e domingos, das 13 às 17h)
Quanto: Gratuita
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